As notícias que nos chegam todos os dias de Moçambique são chocantes. São-no pelo sofrimento que transmitem, pela brutalidade e violência que se instalou em Cabo Delgado, com a perseguição e morte de centenas de civis.
O recente ataque em Palma fez tardiamente soar os alarmes internacionais. A amplificação mediática do conflito ocorreu também com a morte de um europeu, e que aparentemente vale mais para nos alertar para a morte com requintes de malvadez de centenas de moçambicanos.
Desde 2017 que o terrorismo tem fustigado a região de Cabo Delgado e não faltaram os avisos da Igreja Católica, em particular do antigo bispo de Pemba, e várias ONG a alertar para a crescente instabilidade e insegurança. Em quatro anos (!) o conflito levou já perto de 700 mil moçambicanos a fugirem da violência, sendo metade crianças.
Sabemos todos que é um tema complexo. A ajuda humanitária é neste momento prioritária, sendo por isso urgente reforçá-la e fazê-la chegar a quem mais precisa. Por outro lado, as carências do Exército moçambicano não são novas e o anúncio de cooperação para a formação de militares moçambicanos por parte de Portugal e dos Estados Unidos é, pois, positivo. No entanto, a gravidade da situação exige uma intervenção militar rápida para conter os avanços do grupo terrorista. A soberania de Moçambique tem evidentemente de ser respeitada, mas esse não pode ser um pretexto para olvidar o sofrimento de que as comunidades são alvo. O Governo moçambicano tem de (sozinho ou acompanhado) dar uma resposta cabal a este problema.
Portugal, pela relação histórica com Moçambique, tem a obrigação de junto da UE intermediar uma ação mais concreta, traduzindo-se esta em ajuda humanitária ou militar. Infelizmente, à semelhança do que se passa com a Presidência Portuguesa da UE, o Governo está ausente ou incapaz de colocar na agenda europeia a emergência em Moçambique. Merecem crítica também os restantes governos europeus, muitas vezes alvo de ataques perpetrados por grupos extremistas, e a própria Comissão Europeia, por não revelarem mais empenho no combate ao terrorismo além-fronteiras. Sobretudo tendo em consideração a ambição europeia em estreitar laços com África - recordo inclusivamente a vontade do presidente da República em organizar uma cimeira Europa- África, anunciada em 2019, a realizar no quadro da Presidência Portuguesa.
O conflito agrava-se. A tragédia humanitária adensa-se.
Que no tempo pascal que vivemos acolhamos a reflexão e a autocrítica. Não falhemos novamente #ComMoçambique.
*Eurodeputada do PSD
