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A prescrição, aviamento e comparticipação de medicamentos constitui uma rotina que todos conhecemos, mas a que não damos grande importância, porventura porque está muito agilizada, é eficaz e cumpre a sua função.
É, sem dúvida, um dos pilares estruturantes do nosso sistema de saúde.
Diria, no entanto, e sem qualquer desprimor, que é um lado mais tradicional onde ainda não têm lugar os cada vez mais inteligentes dispositivos médicos, as cada vez mais eficientes apps ou, de uma forma geral, todo o manancial de ajudas e instrumentos de suporte a uma abordagem preventiva da saúde.
Um pouco por toda a Europa, este tema começa a estar em cima da mesa, com diferentes soluções a serem pensadas, ainda que a sua implementação seja muito incipiente. Por cá, o Health Cluster Portugal já levantou o tema e tem procurado dinamizá-lo e mantê-lo na agenda. De referir o estudo que sobre a temática apresentou na sua última Conferência Anual (novembro de 2022) e que está disponível no seu website (https: //www.healthclusterportugal.pt/pt/documentos/).
Esta é mais uma das áreas onde a cooperação europeia faz todo o sentido e poderá fazer toda a diferença. Sabemos todos que o caminho não é fácil, mas também sabemos que em boa parte passa por aqui e são positivos e no bom sentido os sinais que começam a surgir.
Por outro lado, é cada vez mais claro o potencial de resposta aos bem e abundantemente inventariados desafios que a saúde enfrenta, nos planos da prestação, da gestão e da ciência, que resultará de adotar, intensa e inteligentemente, as mais modernas tecnologias, desde logo as associadas à digitalização e aos dados.
Num outro ângulo, de forma ainda tímida e pontual na ação, mas completamente assumida no discurso, ganha finalmente espaço o reconhecimento da prevenção como, porventura, a melhor e mais sustentada resposta aos desafios acima referidos.
Pois o dia em que pudermos aviar, não sei se numa farmácia, se noutro qualquer local - real ou virtual, mas desejavelmente de caráter empresarial -, a receita de uma app que o médico que nos assistiu entendeu prescrever-nos, será o início de uma nova era que antevejo auspiciosa. Isto porque este aviamento significará que vamos ter acesso à melhor terapêutica disponível para maximizar o nosso estado de saúde ou minimizar o de doença, e que além de termos acesso ao produto/serviço em causa, teremos também a confiança de que este foi objeto das adequadas validações quanto à sua segurança e ao seu balanço custo-efetividade.
Portugal tem todas, mas mesmo todas, as condições para assumir protagonismo neste contexto, onde destaco o sucesso da prescrição (a 100%) eletrónica, com as vantagens óbvias para os nossos concidadãos e para todo o nosso ecossistema de inovação em saúde. Tenho que admitir que, como sempre, talvez nos falte a vontade, ou melhor, a ambição e a audácia dos nossos decisores. Seria uma pena!
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal