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É incompreensível a estranha apatia que se abateu sobre o F. C. Porto no Jamor. Para uma equipa que se tinha recolocado, há oito dias, no frémito da luta, a primeira parte frente ao Casa Pia foi um manual de instruções sobre como comprometer um jogo. Com respeito excessivo pelo adversário e pelo andar da carruagem, o F. C. Porto olhava para o relógio como um amigo que só obrigava a cumprir serviços mínimos. Quando a expulsão de Lucas Soares acontece, perto do intervalo, o jogo fica amestrado para apenas uma zona de impacto, a grande área do Casa Pia. Pode dizer-se que se usou da paciência, que nunca se subverteram os princípios e que houve a típica falta de sorte dos empates a zero. Certo é que o F. C. Porto nunca demonstrou confiança e alegria para colocar mais vertigem no jogo ou, pelo menos, velocidade bastante. Criou apenas uma mão cheia de oportunidades quando estava obrigado a mais. Desfez-se, depois, pela perda de dois pontos e pelo esvaziamento de um "élan" de retoma.
Um mau jogo de alguns explica-se, um falhanço colectivo exige estudo e remédio. Está longe de ser a primeira vez que o F. C. Porto desta época faz questão de esvaziar os seus próprios balões de ar. É inquietante. Sérgio Conceição olhou o problema de frente e fez questão de o referir, após o jogo. É preciso dar mais quando nada está perdido e ainda faltam disputar 57 pontos. Agora, é curto dizer que se esgotou a margem de erro. Estamos mesmo dependentes dos erros dos outros.
Positivo: Um diagnóstico profundo ao futebol distrital foi apresentado pela Associação de Futebol do Porto, liderada por José Manuel Neves. O "Raio-X" é mais do que uma fotografia actual da realidade do futebol amador. É um ponto de partida de conhecimento que deve informar o presente e pode mudar o futuro.
Negativo: Os sobressaltos de F. C. Porto e Sporting fora de casa distanciam cada uma das equipas dos seus objectivos e explodem com qualquer lógica de antecipação. Antes do "derby" da Luz, no domingo, "dragões" e "leões" retiram parte do nervo ao clássico, libertando o Benfica da pressão de ter que ganhar para que outros não passassem a depender de si mesmos.
*Adepto do F. C. Porto
o autor escreve segundo a antiga ortografia