"Como deixar tudo na mesma"
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Mais do que tautológica, a explicação que agora se dá é, para além de triste, uma explicação de mau pagador que reflete e reforça a forma como este Governo, que agora sai, olha e olhou para as Forças de Segurança (FS) e para os milhares de fantásticos Polícias e Militares que a compõem. E torna-se ainda mais burlesco lançar mão do gasto argumento do número de profissionais, quando aparentemente, fazendo fé nas recentes palavras do Dr. Fernando Medina, a folga orçamental é mais do que suficiente para acomodar o impacto orçamental que a decisão certa, no tempo certo, deveria e poderia ter sido assumida como o foi para os profissionais da Polícia Judiciária, dos Serviços de Informações e para outras carreiras na Administração Pública (médicos) que são consideradas essenciais e mestras para um Estado Social, não tendo o número sido um entrave.
O que diríamos do pai que, tendo 2 filhos, veste de forma faustosa o mais pequeno porque gasta menos tecido, vaticinando ao frio o maior? Este tem sido, bastas vezes, ao longo de anos o falso argumento para que este Governo eternize processos de revisão e negociação, em concreto na revisão das tabelas salariais e nos malditos suplementos que, na boca do Dr. José Luis Carneiro, proliferam no seio das Forças de Segurança e que dão uma falsa sensação de que o Estado trata com dignidade estas carreiras.
Bem, vamos a factos, a revisão dos suplementos foi um processo iniciado com o anterior MAI em 2019, da qual resultou, não por vontade própria deste Governo, na atribuição risível de 69€ de aumento pela exposição dos Polícias ao risco, fixando-o em 100€, bem aquém dos mais de 400€ que, à data, a PJ, a montante da revisão, já auferia.
No que toca aos demais suplementos, era o próprio Estatuto da PSP de 2015 que obrigava o Governo a revê-los, tal como aconteceu na PJ, e passados 9 anos, essa vinculação não passou disso mesmo, uma mera carta de intenções, coisa que não aconteceu, veja-se, na atualização dos suplementos de turno e prevenção na PJ, que viram, e muito bem, em meados do ano passado, os mesmos ser revistos e atualizados para valores que ficam 3 a 4 vezes acima dos praticados na PSP e GNR desde 2009.
Em 2021, também com o anterior MAI, foi negociado e consensualizado [finalmente] com todos os Sindicatos um Plano de Higiene e Segurança no Trabalho para as FS. Pasme-se, ficou por ver a luz do dia e não se percebe porquê.
Há anos, com este e anteriores Ministros, foram sendo feitas insistências e propostas de revisão da tabela salarial por esta se manter letargicamente inadequada e longe de dignificar as carreiras dos Polícias como carreira especial. E aqui impõe-se dizer, o que nós queremos não é uma Polícia de Suplementos que menorize a condição policial, queremos é uma estrutura salarial qualificada que dignifique as carreiras e a responsabilidade da sua missão.
Não há dúvidas que o Governo andou muito bem quando decidiu valorizar a carreira da PJ. O que não podemos é ter um Estado que funciona a várias velocidades, decidindo, em planos comuns, valorizar uns e esquecer-se de outros. Esta é a razão pela qual, progressivamente, temos vindo a empurrar o futuro das FS para o precipício, escombrando cada vez mais a sua dignidade, ao ponto de as novas gerações não olharem para elas como olhavam antes, como carreiras dignas e atrativas, daí o baixo número de candidatos que hoje atinge números catastróficos, sem esquecer os mais de 50 polícias que todos anos decidem desligar-se da instituição por falta de esperança num futuro melhor.
Os polícias sentem-se, legitimamente, órfãos de um pai que não olhou por eles como devia quando eles, todos os dias, olham e zelam pela segurança de todos os nossos filhos. A única mudança que este Governo trouxe às FS foi uma mudança para o mesmo, se não para pior, e isso vai-se pagar certamente no futuro.
Os Polícias esperam por uma mudança, e não só eles como toda a nossa gente, um virar de página que encerre um capítulo negro, e que inicie um que dignifique verdadeiramente estes milhares de profissionais que todos os dias, com galhardia e altruísmo, fazem do Servir a nossa bandeira, servindo Portugal e todos os Portugueses.