A liderança de clubes ou sociedades desportivas de futebol profissional requer competências específicas em duas áreas estratégicas: a da explorações de direitos do espetáculo e a dos mercados de jogadores. Ainda que possam delegar responsabilidades nessas duas áreas em outros administradores ou gestores, os presidentes dos grandes emblemas do futebol internacional devem conhecer profundamente tanto a área da comercialização do espetáculo como a da compra e venda dos artistas.
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Estou em crer que é precisamente por não terem conhecimentos aprofundados dos mercados de futebolistas profissionais que, em regra, os oligarcas da Europa de Leste e do mundo Árabe não têm tido o sucesso desportivo correspondente aos milhares de milhões de euros investidos em equipas que pretendem ser campeãs europeias.
Em contrapartida, há lideres que, justamente em função dos conhecimentos adquiridos sobre os mercados de jogadores, conseguem exponenciar desportivamente pequenas estruturas acionistas e de massas adeptas fazendo-as usufruir de títulos muito para além da base económica e financeira em que assentam.
Em Portugal, não faltam presidentes que conseguiram sucessos desportivos muito superiores à dimensão social e económica das suas equipas, graças a apostas muito fortes em jogadores de elevado potencial que eles conseguiram descobrir - pessoalmente ou em rede de conhecimentos - e mais tarde venderam para emblemas de maior gabarito. Garantindo, assim, impensáveis ciclos virtuosos.
Pinto da Costa acima de todos os outros, mas agora também António Salvador, são exemplos que ilustram na perfeição esse perfil de liderança que, em resumo, sabe quem são e onde estão aqueles jogadores que hão de vir a ser craques.
Na entrevista de abertura de época concedida à Benfica TV, Filipe Vieira confidenciou detalhes da vida interna da sociedade desportiva que o colocam nos antípodas desse perfil de liderança. E no que a jogadores diz respeito, tornou claro que a responsabilidade não é sua: "A estrutura funciona muitíssimo bem. Acha que sei de táticas? O Rui [Costa] sabe de futebol e tática como ninguém, é administrador e supervisiona todos os ativos.... Jesus é treinador do Benfica, mas todas as contratações passam por Rui Costa. Com o conhecimento de Jesus".
O tempo dirá se este género de liderança acabará, ou não, por conseguir traduzir em vitórias as dimensões social e económica do Benfica. Já que em última instância, o Benfica e o seu presidente serão avaliados pelos títulos que conquistem.
"Ninguém me pode avaliar por ser campeão ou não", disse também o presidente do Benfica nessa entrevista.
E neste ponto está enganado.