<p>Um, o primeiro-ministro, precisava de cúmplice, para não arcar sozinho com as consequências da borrasca financeira que por aí anda e promete ainda mais desditosos tormentos. O outro, o líder da Oposição, ainda que fresco no posto, achava-se já com direito ao palco para onde o parceiro agora o puxou. A reacção conjunta de PS e PSD ao ataque especulativo sobre a nossa frágil economia teve esse condão: tornou evidente que o "Bloco Central" é a mais duradoura das marcas nacionais. Vem sempre à tona de água. Mesmo quando parece irremediavelmente submersa. </p>
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Dir-se-á que este espírito de "união nacional" para enfrentar a ameaça externa é uma incontornável exigência de responsabilidade política. Tão incontornável que Pedro Passos Coelho atirou para trás das costas as críticas que fizera à liderança de Ferreira Leite por ter viabilizado o Programa de Estabilidade e Crescimento e José Sócrates não pôs de lado contributos do PSD para um PEC que apenas há uns dias era um documento fechado, não passível de discussão.
Em síntese: Sócrates e Passos Coelho caíram nos nos braços um do outro. E o que politicamente conta não é só o gesto - que tem impacto externo, mas também doméstico - mas o conteúdo. Que se traduz numa convergência de objectivo e de meios.
O presidente do PSD, a respeito da primeira das vertentes, foi claro como a água. Do que se trata é de assegurar a estabilização financeiria. Lá está: com o país de joelhos perante uma agência de notação financeira que ninguém elegeu e ninguém controla, Passos Coelho assume que o crescimento, segundo vector do PEC, é para pôr entre aspas, adiar, sacrificar em nome da necessidade de reconduzir o défice público aos limites impostos.
Quanto aos instrumentos susceptíveis de assegurar o objectivo, também estamos conversados. É nas medidas de apoio social que se corta. E imediatamente, para "sossegar" os mercados. A diferença de políticas entre os dois maiores partidos, neste domínio, nem de timing é, portanto. O Governo do PS, que queria aplicar as medidas em 2011, antecipa-as. A falar é que a gente se entende...