Há uns anos, a convite da Assembleia da República, fiz uma mano a mano com o saudoso José Medeiros Ferreira em que refletimos sobre a imagem que Portugal projetava no Mundo. Nunca mais deixei de me preocupar com o tema. Alguns dirão que esta obsessão com a imagem é própria de um país inseguro, que sobrevaloriza o modo como os outros o olham, em lugar de cultivar, muito simplesmente, a sua autoestima e saber andar em frente. Não tem razão quem assim pensa. Sendo nós uma economia aberta e um país com fortes dependências, que necessita como pão para a boca de investimento estrangeiro e que tem no turismo um dos seus vetores de crescimento, Portugal é obrigado a ter em atenção o modo como é olhado do estrangeiro. Em especial, o nosso país necessita de cuidar em que se desfaçam alguns preconceitos existentes e que, mesmo sem edulcorar a realidade objetiva das coisas, os seus fatores positivos possam ser reconhecidos. É que, como forma de fazerem realçar as suas vantagens próprias, outros não deixarão de tentar destacar-se em nosso detrimento. A vida internacional é assim mesmo.
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É uma evidência que a solução governativa criada há pouco mais de um ano, com a chamada à área de apoio ao Governo de uma "esquerda da esquerda", onde figuram partidos críticos do modelo de sociedade prevalecente no Mundo onde nos inserimos, criou uma forte perplexidade. A Europa, em especial, estava "escaldada" com a deriva que o Syriza e o Podemos tinham corporizado, cavalgando a onda da crise e da insatisfação das populações, pelo que cerrou o sobrolho à solução ensaiada em Portugal. Mais do que saudosos dos complacentes "amigos da troika", relegados para a bancada oposicionista, o realismo prático dos nossos parceiros "pagou para ver". E o que é que viu? Viu um Governo, de início estranho, confirmar os seus compromissos externos, sem falhas, com um discurso de responsabilidade que, pouco a pouco, conquistou o respeito das instituições internacionais.
Mas viu mais. Lembro-me bem de ouvir de um amigo que vive nos EUA, bem hostil à "geringonça", a ideia de que o susto com o surgimento desta num país da NATO havia sido como que equilibrado com o anúncio da eleição de um presidente "de direita". Com graça, ele comentava: "não tive forma de explicar aos meus interlocutores que, de facto, tendo Portugal eleito um presidente que vinha da direita, isso talvez não funcionasse de forma tão automática como eles supunham. Como é que eu podia fazê-los entender quem era o Marcelo"?
É verdade. Um ano depois, é uma evidência que a nossa imagem mudou muito, graças, principalmente, a Costa e a Marcelo. Só não vê quem não quer.
* EMBAIXADOR