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Mete impressão (e dó...) o modo como os argumentos económicos são usados a propósito de tudo e de nada na vida nacional. Princípios básicos da sociedade parecem subjugados a uma linguagem manejadora de números a torto e a direito, incluindo as situações mais estapafúrdias.
O cenário agora equacionado de fecho das chamadas esquadras de proximidade nas cidades do Porto e de Lisboa é o mais acabado exemplo do estabelecimento de um primado sonoro com o seu quê de esquizofrenia. Pode haver uma série de razões, fundamentadas, a ditar a hipótese equacionada pelo Ministério da Administração Interna de pôr fim a algumas esquadras. Mas já é do domínio da tontice usar o argumento da falta de produtividade....
Imagine-se: a "bondade" do anúncio feito pelo secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, Juvenal Peneda, da hipótese de fecho de algumas esquadras de atendimento baseia-se no facto de algumas delas registarem uma "média de 0,8 queixas por dia"! Como disse? A produtividade na área da Segurança está muitíssimo longe de ser balizada pelo número de queixas apresentadas nas esquadras pelos cidadãos alvo da horda de bandoleiros e aparentados à solta nas cidades. O baixo índice de participações, pelo contrário, estará antes radicado na falta de crença dos lesados na eficácia do sistema de Justiça ou - melhor - no facto de a existência de uma esquadra contendo dentro agentes de autoridade funcionar como dissuasora de comportamentos criminosos. E nesta circunstância, visto pelo ângulo economês agora prevalecente em tudo o que mexe no país, a existência de um número rarefeito de queixas é, ao contrário de uma parte da justificação do Governo, sinal de alta produtividade da função atribuída à Polícia: velar pela ordem e pela segurança de bens e pessoas.
Se é, pois, falacioso fazer a defesa do desmantelamento de algumas das atuais esquadras de proximidade pelo número de cidadãos que a elas recorrem para apresentar os seus queixumes, é admissível no plano técnico a existência de alternativas mais eficazes?
Provavelmente. Mas debaixo, sempre, de pressupostos já defendidos, sobretudo pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia: passagem visível para as ruas dos efetivos manietados em funções burocráticas, única forma de se proceder a um convencimento tranquilizador das populações.
Todo e qualquer plano técnico a sustentar alterações de figurino, aliando custos razoáveis a eficácia, só estará talhado para o sucesso no caso de se proceder a uma mudança de 180 graus na imagem, embora às vezes injusta, que o povo dispõe da PSP: distante, quando não invisível nas ruas, e mais talhada para passar multas de trânsito do que para dar caça aos prevaricadores - sejam eles criminosos violentos ou carteiristas de meia-tigela.