Como se atrevem?

Troca-se Nadir Afonso por 50 lugares para carros!

Durante anos, vários movimentos, para além da família do pintor, tentaram que o edifício fosse preservado, classificado como imóvel de interesse nacional, e em sequência recuperado e dotado de um uso compatível com a sua natureza artística e cultural.

Infelizmente, a cadeia decisória pública oscilou entre a falta de visão e a negligência, tendo sido recusada a proteção nacional e ignorada a possibilidade de classificação de âmbito municipal.

Como é que tão depressa nos batemos por uma Fundação Nadir Afonso em Chaves ou por um Centro Nadir Afonso em Boticas, mobilizando vontade política e recursos e do mesmo passo decidimos por ato ou omissão destruir uma das componentes mais raras da produção do mesmo artista? As duas "panificadoras" gémeas de Chaves e Vila Real de meados dos anos 60 foram os últimos exemplares da raríssima obra de arquitetura de Nadir.

E, desta vez, talvez não tenha sido a distância do poder central a tomar a decisão errada.

Até porque a até agora diretora-geral do Património Cultural, em Lisboa, conhece muito bem o território e o artista.

Mas, para que serve, afinal, sediar a Direção Regional de Cultura do Norte em Vila Real? Era suposto trazer a garantia de um olhar mais atento à realidade do território e a necessária criatividade e empenho para mobilizar vontades e encontrar soluções.

Como podem esconder-se atrás da falta de recursos se temos, por exemplo, um programa operacional regional onde, se bem explicado e bem fundamentado, seria seguramente possível encontrar uma solução de cofinanciamento para a recuperação e programação deste património?

Mas, pelos vistos, a proximidade gera miopia......

Espero apenas que não me digam que a arquitetura de Nadir não era o seu forte porque, a ser assim, ainda um dia queimam os extraordinários desenhos de Siza Vieira!

*Analista financeira