Em política não há verdade. Há verdades. Há, sobretudo, a verdade política. Mas a verdade política é sempre a verdade de cada um. De cada político. De cada partido. De cada força pública. De cada lóbi. Mas isto não quer dizer, nem tão-pouco nos dá direito a concluir que os políticos sejam uns mentirosos. Os políticos praticam geralmente o eufemismo. Diz o dicionário da Academia de Ciências de Lisboa que o eufemismo é uma figura retórica que consiste em adoçar ou suavizar ideias tristes, desagradáveis ou odiosas. E se isto é prática usual na vida corrente, mais se verifica em tempo de propaganda política. Ou em situações bastante críticas. Ultimamente, o exercício mais acabado desta prática, foi a forma como José Sócrates anunciou ao país o acordo firmado com a "troika" para a concessão do empréstimo internacional a Portugal.
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Igualmente não deixam de constituir exemplos bem demonstrativos da realidade que é a verdade política ou a verdade em política os debates televisivos entre os vários líderes partidários. Cada um expõe "a sua verdade" em contraponto à verdade do adversário. É interessante até verificar como no mesmo debate, uma vez contradita, essa verdade é retocada, distorcida, substituída, ou até anulada por conta própria. Nestes debates, o jornalista moderador, por vezes a fazer de inquiridor, é normalmente tratado como um "intruso". No debate partidário, usar (ou abusar) do "monopólio da palavra" é uma regra de ouro que, neste campo, é decisivo saber manipular.
A pergunta mais intrigante com que me deparo tantas vezes é aquela indagada pelos jornalistas: Quem ganhou o debate? As leituras das "verdades" ali expostas têm milhentas versões e decifrações. E não são apenas interpretadas pelo discurso ou mestria de retórica utilizados. Posso dar a minha opinião, mas quando esse veredicto quer medir o desfecho na dita opinião pública, tenho sempre grandes dúvidas. Os eleitores que assistem aos debates, regra geral, não dessincronizam o que é dito, de quem o diz. O efeito criado depende de muitos outros factores e muito especialmente da "imagem" de que goza o falante. O dito nunca é um acto em si mesmo. Vale por todos os outros elementos que o ouvinte anexa. E em contexto eleitoral, a escolha do "vencedor" é normalmente pela imbricação da síntese dos "interesses" de quem ouve. Provavelmente, o ziguezague dos resultados das numerosas sondagens que têm vindo a público tenha alguma coisa a ver com isto. A fórmula de dizer "como se tudo fosse verdade", na arena política e eleitoral, não é por si o segredo do êxito.