"Na minha vida, vi quatro guerras começarem com grande entusiasmo e apoio público, nenhuma soubemos como terminar e de três retirámo-nos unilateralmente. O teste da política é como ela termina, não como começa". Assim escreveu o antigo secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, em 2014, a propósito do conflito russo-ucraniano.
Corpo do artigo
O debate das responsabilidades pela escalada de tensão entre a Rússia e os EUA é importante. Kissinger argumenta que nenhuma das potências soube respeitar o papel da Ucrânia como possível ponte entre ambas. Mas a questão mais importante agora é outra e interpela também os países indiretamente envolvidos no conflito: como é que esta guerra vai terminar?
A acumulação de militares e equipamentos da NATO junto às fronteiras da Ucrânia, ao invés de ter servido a dissuasão de avanços russos, parece ter fornecido a Putin o pretexto para uma escalada agressiva, que chegou já à bravata nuclear. Perante a mera invocação desta possibilidade, um avanço da NATO em território ucraniano significaria guerra nuclear e catástrofe global. É por isso que os governantes ocidentais, incluindo o presidente dos EUA, têm afastado qualquer hipótese de retaliação direta. Resultam assim evidentes a ineficácia da NATO como força defensiva e a necessidade de formas alternativas de apoio ao povo ucraniano na resistência ao invasor. Vários países já anunciaram o envio de fundos e armas para a Ucrânia, opção correta num contexto de violação da soberania daquele país e grande desproporção de forças.
Outra forma de penalização do Estado russo é a adoção de sanções económicas e financeiras, em particular contra os oligarcas que são o suporte político e financeiro de Putin. Ora, as empenhadas declarações de representantes de instituições e governos europeus não coincidem com as medidas de facto adotadas. A Itália conseguiu furar o embargo para as suas exportações de produtos de luxo para a Rússia, a Bélgica assegurou que o mercado de diamantes sairia intocado e a Suíça resistiu a bloquear fortunas dos oligarcas. A UE deu-lhes margem de manobra ao anunciar antecipadamente o congelamento das contas.
Ainda sou do tempo em que, com a Direita no Governo e João Cotrim de Figueiredo no Instituto do Turismo, se dedicavam recursos do Turismo de Portugal à promoção e venda de vistos gold a milionários russos. Hoje chamam-lhes oligarcas. E mesmo agora, em face da guerra, o Governo português não divulga os seus nomes, nem suspende os vistos. Claro que, ao atingir interesses russos, serão afetados também interesses ocidentais ligados a eles. Veremos se existe essa determinação, é ela que hoje pode dar melhores resultados contra Putin.
Deputada do BE