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Não vota! E, no entanto, enquanto os seus leais súbditos acorrem às urnas Isabel II, rainha do Reino Unido e chefe de Estado dos 53 países da Commonwealth, à distância dos seus noventa anos, uma Guerra Mundial e tantos primeiros-ministros quantos os dedos das suas mãos, deve pensar que talvez valha a pena não apostar no desconhecido até porque a sua real efígie nas libras inglesas é segurança quanto baste para uma governação saudavelmente autónoma e insular.
E, por outro lado, sabe ainda que tudo isto começa e acaba num mal medido passo de Cameron para tentar pôr ordem no seu partido. Mal medido porque a rede de segurança que podia ter constituído a coligação renovada com o Partido Liberal falhou, tendo Cameron ficado refém da sua promessa eleitoral.
Podem conjeturar-se razões e impactos para ficar ou sair, mas a verdade é que não há um conjunto de reivindicações testadas e consensualizadas e muito menos um caderno de encargos que se perceba e que nos sossegue para o day after.
E por day after entenda-se não propriamente uma Europa desconjuntada e excêntrica mas, e sobretudo, um Reino Unido que pode desintegrar-se com a rapidez de um novo e provavelmente fatal referendo escocês.
Isabel II não pode ter opinião expressa. Mas, se pudesse, talvez lembrasse aos seus súbditos que a Grã-Bretanha multiétnica é um legado direto do maior império do Mundo e o British Welfare State uma das mais eficazes armas contra a depressão económica dos pós-guerra. A rainha sabe que a crise dos refugiados é apenas um epifenómeno na história de um país que conquistou, inculturou e desejou a disponibilidade de comunidades imigrantes ao longo do último século. A rainha sabe porque viu. Tem 90 anos.
É verdade que a UE é rígida, talvez menos democrática que os seus governos e seguramente mais cara, mas o nacionalismo autárcico e perigoso de países como a Hungria, a Polónia, a Áustria ou mesmo a Dinamarca não é compaginável com a longa tradição constitucional e democrática do RU.
Talvez Isabel II se tenha deixado levar pelo discurso aparentemente seguro de David Cameron. E talvez não tenha percebido que, tal como magistralmente fez Helen Mirren a Tony Blair, teria valido a pena explicar que mais vale uma boa reforma do que uma perigosa e provavelmente má revolução!
ANALISTA FINANCEIRA