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1O PSD já esteve tão destacado nas sondagens que se chegou a antecipar a possibilidade de conquistar uma maioria absoluta. A euforia arrefeceu entretanto, mas o PSD continuava bem acima do PS nas sondagens. O suficiente para se dar como adquirido que conseguiria, com o velho aliado CDS-PP, uma confortável maioria absoluta no Parlamento. A temperatura continuou a descer, mas a percepção generalizada ainda era a de que, mesmo por escassa margem, a vitória nas eleições não escaparia ao centro-direita. Acontece que o arrefecimento não deu descanso aos sociais-democratas e, a julgar pela última rodada de sondagens, começa a ser legítimo duvidar que haja uma maioria parlamentar que resulte da soma dos votos do PSD e do CDS-PP. A etapa seguinte, que se pressente, é a de que PSD e PS estejam suficientemente próximos para deixar no ar uma hipótese que, ainda há poucos meses, qualquer português, fosse ou não adepto do actual primeiro--ministro, desprezaria: José Sócrates pode voltar a vencer umas eleições legislativas.
2. É sempre útil recordar a história recente para perceber que rumo político poderá tomar o país. A 25 de Abril de 1983, houve eleições sem vencedor claro, um Governo de Bloco Central que juntou o PS e o PSD, uma crise que obrigou à entrada do FMI. Na altura, o PS ficou em primeiro com 34%; seguiu-se o PSD, com 27%; o CDS somou 12%; e a APU (antecessora da CDU), conquistou 18% (um pouco mais do que valem, hoje, o PCP e o BE). Um resultado que, sem excesso de imaginação, se pode prever para as próximas eleições legislativas de 5 de Junho de 2011. Mais ponto, menos ponto percentual, ganhe o PSD ou o PS, o Bloco Central é de novo uma hipótese em cima da mesa. Se não for por causa do apelo à união nacional de Cavaco, será por uma questão aritmética. Com uma diferença: os líderes de então eram Mário Soares e Mota Pinto. Os protagonistas de hoje, José Sócrates e Pedro Passos Coelho, são incompatíveis. Ou, pelo menos, têm feito um imenso esforço nesse sentido.
3. A Câmara de Matosinhos decidiu investir no imobiliário e comprar os estádios do Leça e do Leixões, dois clubes de futebol profissional mais ou menos falidos (a ordem não é arbitrária), por 6,3 milhões de euros. Um dos argumentos usados pela Autarquia socialista para avançar com este magnífico negócio é o de que, se tivesse de construir dois estádios novos, ficava mais caro. Não vale a pena discutir o mérito do argumento. Dá apenas vontade de rir, ou de chorar, consoante o contribuinte tenha mais ou menos apego à forma como lhe gastam os impostos. Deixo uma sugestão: dado o magnífico estado das finanças da Autarquia que este negócio evidencia, que o nosso Governo corra com a rapaziada do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, e passe a negociar o resgate directamente com a Câmara de Matosinhos. Aposto que conseguem um empréstimo a juro mais baixo.