Corpo do artigo
Em 2021, uma investigação da Public Eye (organização suíça de defesa dos direitos humanos) divulgou pela primeira vez a exploração laboral a que eram sujeitos os trabalhadores de algumas fábricas que fornecem a Shein. Quatro anos depois, continua a haver operários têxteis que trabalham em média 12 horas por dia, nalguns casos 30 dias por mês. Nada que impeça o crescimento da gigante chinesa de "fast fashion", que se prepara para abrir a sua primeira loja física em Paris.
O sucesso da moda ultrarrápida ilustra bem a hipocrisia da nossa cultura de consumo e dos padrões individualistas que levam a fechar os olhos a princípios que proclamamos à boca cheia. A lista de infrações cometidas pela gigantesca plataforma, com venda em cerca de 150 países, já originou multas milionárias em diversos mercados. Desde publicidade enganosa a falhas na segurança ao consumidor, passando pelo impacto ambiental das peças, a marca mereceu também a intervenção da Comissão Europeia, que tem um processo aberto sobre riscos associados a produtos considerados ilegais. A venda de bonecas sexuais com aparência infantil é a mais recente polémica, que está sujeita a investigação pelo Ministério Público francês.
Apesar da indignação de empresas e de cidadãos que se têm manifestado contra a abertura da loja em Paris, a marca mantém planos para inaugurar mais cinco espaços permanentes em cidades francesas. De pouco vale legislar-se contra a moda ultrarrápida, se na prática a via segue aberta para um modelo de negócio que agride o ambiente e abusa de trabalhadores. Cada vez que o preço de uma peça lhe parecer tentador, pense duas vezes. O que pode parecer leve na carteira sai caro, e de que maneira, ao planeta e à vida de muitas pessoas. E deveria pesar-nos seriamente na consciência.

