"Irresponsável e alarmista". A 26 de julho, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, disparou estas palavras para classificar uma notícia do JN sobre as golas antifumo que, segundo explicaria a Proteção Civil, apenas serviam para sensibilizar as populações e não para as proteger.
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Afinal, serviram para mais alguma coisa, designadamente para percebermos de que maneira o ministério tutelado por Eduardo Cabrita foi às compras durante esta legislatura, com práticas irresponsáveis e que causam alarme junto de todos os portugueses, emergindo como mais uma forte machadada no já débil capital de confiança que os políticos merecem junto dos eleitores.
Pouco preocupado com o assunto parece estar Rui Rio, provavelmente porque o tempo não chega para tudo, surgindo, nesta fase de pré-campanha, mais empenhado em batalhas que conduzam à punição dos jornalistas e à perda de protagonismo dos magistrados.
O alheamento do presidente do PSD e do primeiro-ministro, António Costa, que aguentou o secretário de Estado da Proteção Civil até à última - agora arguido, Artur Neves foi forçado a demitir-se na sequência das buscas efetuadas ontem pela Polícia Judiciária - é esclarecedor. Juntos ou afastados, Rio e Costa são os rostos de um bloco central que alimentou, ao longo das últimas décadas, os ajustes diretos acima da conta, os contratos suspeitos, as ligações familiares perigosas e muito do que de mau associamos à democracia.
Na antecâmara das eleições, resta-nos manter a esperança de que uma nova geração de políticos - que adiante poderá conhecer, nesta edição -, não se inspire, por exemplo, em ministros como Augusto Santos Silva, tão rápido a defender que uma lei não deve ser levada à letra, quando confrontado, há um par de meses, com a questão dos negócios entre o Estado e empresas de familiares de membros do Governo.
*EDITOR-EXECUTIVO