Por estes dias, muitos pais com filhos entre os 12 e os 15 anos interrogar-se-ão se devem, ou não, vacinar as suas crianças.
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A dúvida é compreensível, porque se passou a ideia de que houve uma decisão política e isso baralha tudo. Há, pois, que restabelecer rapidamente a confiança dos portugueses e isso faz-se através de especialistas.
Não foram assertivas as duas últimas conferências de imprensa da Direção-Geral da Saúde (DGS) para falar da vacinação dos mais jovens. A 30 de julho, a diretora-geral da Saúde anunciou que apenas seriam vacinados os jovens dos 12 aos 15 anos que tivessem doenças de risco para a covid-19. Na altura, a decisão baseava-se nas indicações da Comissão Técnica de Vacinação. No dia seguinte, a partir de São Paulo, o presidente da República dizia que o processo estaria "aberto à livre escolha dos pais". A 5 de agosto, Marcelo Rebelo de Sousa previa que "tudo tem o seu tempo". E esse tempo haveria de chegar pouco depois, a 10 de agosto. Nesse dia, e acompanhada de Luís Graça, coordenador-adjunto da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid, Graça Freitas anunciou que todos aqueles que têm entre 12 e 15 anos deveriam ser vacinados. Já em agosto.
Este desenvolvimento confundiu os pais e lançou uma suspeição no processo de vacinação que, em Portugal, tem sido exemplar. Há que remediar depressa os danos desta falha de comunicação. Para isso, não basta que o vice-almirante Gouveia e Melo anuncie modelos organizativos que facilitem o processo num mês tradicionalmente de férias para a maioria. É preciso que a DGS mobilize discursos especializados que tranquilizem os pais e deem algum descanso aos pediatras que, nestes dias, se veem confrontados com pedidos de explicação para uma realidade em relação à qual lhes faltará seguramente a informação necessária.
Mais do que escudar-se no discurso de Luís Graça, a diretora-geral da Saúde tem de mobilizar especialistas que falem de forma clara dos benefícios da vacinação para os menores de 15, a fim de manter o sucesso de um processo para o qual a própria Graça Freitas muito trabalhou ao longo dos últimos anos, naquele que tem sido um percurso de dedicação ao serviço público. A não fazer isso, ficará vulnerável a versões contraditórias esgrimidas nos média noticiosos que, mais do que esclarecerem, multiplicam dúvidas e disseminam o medo. Os pais precisam que lhes expliquem inequivocamente que esta mudança de rumo não resultou de uma exigência política, mas assentou em evidências científicas, entretanto conhecidas, que nos garantem a máxima fiabilidade da vacinação dos mais novos.
*Professora Associada com Agregação da UMinho