Nem o contexto da pandemia travou a despenalização da eutanásia. Este é um tema fraturante, mais que não seja por ter fraturado o Parlamento português. Embora seja um tema mais caro ao que se convenciona chamar a Esquerda, nem toda a Esquerda votou a favor da eutanásia. Da mesma forma, que nem toda a Direita votou contra.
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Através de um comunicado, os bispos portugueses reagiram com "tristeza e indignação" à aprovação da eutanásia. Não aceitam que "a morte provocada seja resposta à doença e ao sofrimento". A Igreja Católica, sobretudo através dos seus capelães hospitalares, tem-se esforçado por estar próxima dos que sofrem e, como se sabe, tem encontrado e desenvolvido outras respostas que não a morte.
A aprovação da eutanásia parece ser irreversível, ainda que o presidente da República a submeta à apreciação do Tribunal Constitucional ou a vete. Agora a batalha da Igreja deve ser investir ainda mais no acompanhamento aos doentes, para que a eutanásia não se banalize e se mercantilize ao ser permitida fora do Serviço Nacional de Saúde. A Igreja não poderá "desistir de combater e aliviar o sofrimento, físico, psicológico ou existencial", como dizem os bispos.
Na Assembleia da República, o PCP também utilizou argumentos que qualquer bispo poderia usar. António Filipe, líder parlamentar do PCP, chamou a atenção para a mensagem que o legislador está a dar à sociedade. Os comunistas, apesar de compreenderem o sofrimento dos doentes terminais, têm o "receio de que essa mensagem", como aconteceu noutros países, conduza à "banalização do recurso à eutanásia".
Para aqueles que defenderam nas eleições presidenciais que um católico só podia votar num candidato que fosse contra a eutanásia, certamente esqueceram-se que o PCP também é contra a sua despenalização. Por vezes, aparecem aliados de onde não se espera. Isso não significa, contudo, que se possa aceitar tudo o que certo partido defende.
Um católico deve aceitar, com boa-fé, todos os contributos que estejam em sintonia com a mensagem de Jesus Cristo. E estar vigilante para reprovar frontalmente tudo o que a ela se oponha.
*Padre