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É verdade que um treinador vê coisas num jogo que nós, os comuns mortais, especialistas encartados ou simples amantes de futebol, não conseguimos descortinar. Isso leva-me a aceitar a leitura que Sérgio Conceição fez do clássico entre o Sporting e o F. C. Porto, em Alvalade. Mas não posso deixar de expressar a minha discordância. O Sporting ganhou, e bem. Foi melhor a jogar contra 11 e contra 10, após Pepe, aos 40 anos, ter caído em mais uma provocação rasteira de Matheus Reis, e da qual escapou sem punição disciplinar, como se fosse um miúdo em início de carreira.
O que se viu nos 90 minutos foi um F. C. Porto que nunca esteve confortável, que, por muito que tenha trabalho isso nos treinos, nunca mostrou soluções para travar a dinâmica imprimida por Gyokeres - para já, os 20 milhões mais bem gastos de sempre pelos leões! - ao ataque do Sporting. Um cabeceamento de Galeno é pouco, muito pouco, durante 90 minutos. Daí que poucos percebam o discurso de Conceição, quando diz ter sentido que foi talvez o duelo em que os leões tiveram mais dificuldades desde que treina o F. C. Porto. O Sporting venceu bem, mas fez demasiada festa para quem nada ganhou, para quem na altura das decisões, atendendo às reduzidas diferenças pontuais no topo da Liga, ainda vai ao Dragão à 28.ª jornada. Daí os recados externos de Conceição, para os eufóricos leões e para os desiludidos portistas: as contas fazem-se no fim.
E no rescaldo do clássico, Conceição deixou uma mensagem forte e clara para dentro de portas, ao relegar David Carmo, o central de 20 milhões de euros, para a equipa B: ou todos remam na mesma direção, ou o melhor é abandonar o barco. O defesa pode estar descontente com a queda na hierarquia dos centrais, mas não é após uma derrota, dolorosa, que alguém se assume como voz dissonante. Sobretudo quando esta época já teve oportunidades de sobra para se afirmar e nunca o conseguiu...