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O Estado de direito democrático precisa da confiança dos cidadãos. Quando as suas instituições não garantem essa confiança, toda a base de relacionamento entre o Estado e os cidadãos está em risco.
Aplicadas a Portugal, estas duas frases anteriores devem fazer-nos pensar. Sobretudo porque estamos numa altura de balanços e de previsões e é inevitável arrumarmos ideias.
Debatemos insistentemente a existência de extremismos, o sentimento de insegurança versus segurança e até diferenças clubísticas sob um manto de desconfiança que mina todo o nosso relacionamento social. A questão central é que, em grande medida, deixamos de confiar numa série de instituições e é isso que, verdadeiramente, alimenta o ambiente crispado que teimamos em manter e não conseguimos ultrapassar.
Seja a divergência de opiniões sobre operações policiais, o acesso ao Serviço Nacional de Saúde ou o funcionamento dos tribunais, se tentarmos refletir de forma distanciada sobre essas questões, poderemos perceber que por trás está, sobretudo, uma enorme falta de confiança nas instituições e, por consequência, no Estado de direito.
Temos dificuldade em confiar nas polícias, questionamos o atendimento médico e duvidamos das decisões dos tribunais. Junte-se a este raciocínio outras áreas, como a educação ou a economia, e percebemos que quase nada confiamos em quem trabalha e zela pela nossa sociedade.
Em jeito de desejo para o novo ano que se aproxima, seria uma boa oportunidade pôr na lista a vontade de acreditar no Estado que todos os dias devíamos ajudar a construir.