Com as medidas de contingência implementadas para combater a pandemia os fiéis ficaram impedidos de se confessarem. Logo na Quaresma, em que muitos cristãos se confessam para assim melhor viverem a Páscoa. E tantos outros correm perigo de vida e gostariam de ter o conforto de se reconciliarem com Deus e com os irmãos.
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Na passada sexta-feira, na missa em S. Marta, o Papa Francisco abriu uma possibilidade para as pessoas resolverem esse problema e tranquilizarem a sua consciência. "Se não encontras um sacerdote para te confessares, fala com Deus. Ele é o teu Pai, diz-lhe a verdade: "Senhor, fiz isto, isto, isto ... Perdoa-me"! E pede-lhe perdão de todo coração, com o ato de contrição, e promete-lhe: "Depois vou-me confessar, mas perdoa-me agora". E imediatamente voltarás à graça de Deus", propôs o Papa.
É uma solução compreensível neste contexto em que está vedada a muitos dos católicos a possibilidade de se abeirarem de um sacerdote para celebrarem o sacramento da Reconciliação. Não é, contudo, uma proposta de todo revolucionária. O Papa recordou que está prevista no Catecismo da Igreja Católica, promulgado por S. João Paulo II e elaborado sob o controlo do então cardeal Joseph Ratzinger, o seu antecessor.
Na sexta-feira à tarde, o Supremo Tribunal da Penitenciária Apostólica, em sintonia com o Papa, determinou uma outra possibilidade, sobretudo para os que estão infetados pelo coronavírus e gravemente enfermos. Decretou uma indulgência plenária para todos eles, extensiva a todos os que deles tratam. Esta inclui também todos os fiéis cristãos. Para estes, podem recebê-la, desde que rezem o Credo, o Pai-Nosso, uma oração mariana e pelo fim da pandemia, por todos os que estão doentes e por aqueles que já faleceram. Habitualmente, as indulgências plenárias exigem a confissão. Nestas circunstâncias, não será necessário.
Para além disso, o decreto da Penitenciaria Apostólica permite a absolvição geral a todos os doentes de um hospital, sem confissão individual.
No Peru, um bispo foi ainda mais arrojado. D. Reinaldo Nann, bispo da prelatura de Caravelí, na sequência da declaração do estado de emergência nacional, publicou um comunicado em que autoriza os sacerdotes a "escutar confissões pelo telefone". As normas da Igreja Católica não permitem que se confesse através dos meios de comunicação, exigem a presença física. Mas este bispo argumenta que "os fiéis necessitam agora, mais que nunca", do apoio espiritual dos seus pastores.
É uma solução tentadora, até para se manter depois desta crise do coronavírus, em dioceses como a de Caravelí. Esta conta com apenas 15 sacerdotes para servirem cerca de 150 000 fiéis dispersos por mais de 400 povoações, em 30 000 km2 (cerca de um terço de Portugal).
Tanto no contexto do coronavírus, como nos casos em que os católicos têm dificuldade de aceder ao sacramento da Reconciliação, é preferível seguir a sugestão do Papa. É melhor pedir perdão a Deus e celebrá-la quando possível, do que ceder à tentação da confissão à distância.
Padre