Uma série de "especialistas, agentes sociais e tecnológicos" juntaram-se para criar uma coisa chamada Instituto do Território (IT). O instituto quer "alavancar o desenvolvimento económico e social" do país (nobre e patriótica missão) através de "uma maior organização do território" (outra nobre e patriótica missão). De acordo com o presidente do IT, Rogério Gomes, esta associação sem fins lucrativos não quer ser um "centro de reflexão", mas sim um "centro de acção". Quem assim fala não é gago...
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E, de facto, Rogério Gomes de gago não tem nada! Numa entrevista concedida ao "Público", o presidente do IT acha, entre outras doutas coisas, que as comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR) são, hoje, "um obstáculo ao desenvolvimento". "Tudo ali cai, tudo se atrasa, os processos são obscuros, o incumprimento de prazos é generalizado".
É caso para mandarmos as mãos à cabeça: se tudo se atrasa, se os processos são obscuros, quer isso dizer que as CDDR são antros de incompetência, de negociatas e de corrupção? Na opinião de Rogério Gomes, são. Questão primeira: por que motivo Rogério Gomes não denuncia, publicamente, o obscurantismo, supondo que sabe de casos que o consubstanciam? Ele que parece adorar patrióticas missões, teria aqui uma bela oportunidade para ajudar o país. Ou disse o que disse porque gosta de falar? Se o presidente do IT não esclarecer - e depressa - a que "processos obscuros" está a referir-se, manchará, logo no arranque, o nome do instituto, por um lado, e, por outro, não poderá mais ser levado a sério.
Digo isto apenas e só porque conheço muita gente nas comissões de coordenação - e, francamente, tenho a maioria como grandes e esforçados profissionais. Conheço vários presidentes da Comissão de Coordenação Regional do Norte, todos acima de quaisquer suspeitas - e nunca ouvi nenhum falar de "processos obscuros". Seriam eles uns tapadinhos? Ou será Rogério Gomes um espertinho?
Voto na segunda possibilidade. Porque só um espertinho pode entender que as comissões são um obstáculo ao desenvolvimento. Uma coisa é discutir as suas funções e respectiva adequação às actuais necesidades das regiões. Outra é passar-lhes uma setença de morte, com o intuito claro de centralizar o que falta centralizar, esquecendo a importância da proximidade da decisão, o conhecimento do território, a mobilização dos actores locais e regionais, a capacidade de fazer circular a informação sobre os fundos comunitários...
Voto na possibilidade do espertinho porque não esqueço que projectos como o Porto de Leixões, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) nasceram na CCDR-N. Como não esqueçoque foi a CCDR-N quem mais se bateu pela ligação Porto-Vigo em TGV ou que foi a CDDR-N que denunciou esse esbulho chamado "efeito difusor", ao abrigo do qual se desviaram milhões e milhões de euros das regiões para Lisboa, como não esqueço que foi em Lisboa que se inventaram 80 regulamentos para o QREN...
Enfim, a lista seguiria se o espaço permitisse. Não permite. Permite apenas lembrarque o instituto de Rogério Gomes foi apadrinhado por Passos Coelho. Eles conhecem-se desde o tempo em que Passos trabalhou na Urbe, liderada por Rogério.
Amigos de velha data, portanto.