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Latino-americano, Bergoglio nunca escondeu o frete que consistia ter de se deslocar, como cardeal de Buenos Aires, a Roma. Votado à exibição de uma “simplicidade” e “humildade” bem preparadas, Francisco rompeu, sem vacilar, com os seus dois mais próximos antecessores. A Europa de São Bento, por exemplo, não lhe diz nada. E ele tem-se, aliás, esforçado por “deseuropaizar” - o que equivale a “descristianizar” - a Igreja a que preside. Quer nas viagens apostólicas, quer sobretudo na organização interna da Igreja, algo que dirige de forma autoritária, contrastante com o lado “progressista” e “aberto” que ressuma das suas intervenções e aparições públicas. Por outro lado, Francisco não é um teólogo. Adora falar de ecologia e de política, todavia não exibe especial densidade doutrinária, e não creio que esteja sequer interessado nisso. É um “prático” que prepara a Igreja Católica, Apostólica e Romana para caminhos eventualmente perigosos que ele próprio poderá, depois, não controlar. Quando, na “carta de missão” ao novo prefeito para a doutrina da fé, e seu “ghostwriter”, o futuro cardeal argentino Victor Fernández, conhecido na intimidade por “Tucho” - e com um exercício sacerdotal de “prognóstico reservado”, nomeadamente panfletário: quer mudar o Catecismo, relativizar a Bíblia Sagrada, discutir o celibato, etc., tendo ajudado o Papa a escrever a inenarrável exortação “Amoris Laetitia”-, declara que, “no passado, o Dicastério adoptou métodos imorais”, Francisco não estará conscientemente a desautorizar o prefeito que foi Joseph Ratzinger, alguém sempre dialogante com aqueles que contrariavam a doutrina da fé? E do que é que Francisco tem estado à espera para criticar intransigentemente a Conferência Episcopal Alemã, entre outras, que se prepara para perpetrar uma “revolução sinodal” no Sínodo dos Bispos de Outubro, um “evento” cada vez mais saído da cretinice multiculturalista em vigor do que da Igreja Católica, “aberto” em um quarto das presenças, à “sociedade civil” e a senhoras? E o que é que o sucessor de Pedro pode ter contra a chamada “missa tradicional”, facultativa desde Bento XVI, que famosamente apelidou de “doença nostálgica”? A forma como destratou publicamente monsenhor Georg Gänswein, seu prefeito para a Cúria Pontifícia e secretário particular do Papa Emérito, foi eloquente. E, pessoalmente, não me esqueço da frieza institucional do Vaticano nos dias que antecederam o funeral de Ratzinger, bem como no dia das exéquias. Na Audiência Geral, enquanto milhares velávamos em silêncio o corpo do Santo Padre, Francisco, ali ao lado, recebia em ambiente festivaleiro os seus seguidores. Tem a certeza que conhece Francisco? Eu não.
o autor escreve segundo a antiga ortografia