Corpo do artigo
Tive o privilégio de, com um grupo de estudantes, visitar Almeida e Figueira de Castelo Rodrigo, onde, entre outros atrativos, se situam duas das aldeias históricas que, na região do Vale do Côa, nos enriquecem com a sua singularidade patrimonial. Numa paisagem marcada pela austeridade das maias e urzes que, nos montes, circundam os afloramentos rochosos, e das papoilas que, ladeando os caminhos, se nos oferecem como jardins acolhedores, o céu, liberto do encandeamento urbano, envolve-nos com a sua proximidade cósmica.
A presença de uma vegetação que nos interpela com a sua harmoniosa espontaneidade e de uma luz que, com as nossas sombras, desenha os passos com que percorremos os percursos que nos são oferecidos faz-nos perceber que não somos senhores da natureza, antes de tudo, se a soubermos aproveitar e contemplar, seus beneficiários e permanentes devedores.
É na comunhão fraterna destes lugares, partilhando a sua natureza e história, que nos aproximamos de uma identidade que aprofunda a autenticidade da nossa realidade humana, inclusive na sua dimensão política.
Almeida e Castelo Rodrigo oferecem-nos, por acréscimo, a memória de eventos que, marcando o seu passado mais ou menos recente, nos tornam testemunhas de atos com que se traçaram alguns dos itinerários das nossas vidas. Em Vilar Formoso, o município de Almeida criou o Memorial aos Refugiados e ao cônsul Aristides de Sousa Mendes, o qual, através de inúmeros testemunhos e fotos, destaca e enaltece, entre outros aspetos, o papel da população fronteiriça no acolhimento de milhares de refugiados judeus que procuraram escapar às perseguições dos torcionários nazis. Por outro lado, para além das ruínas das muralhas e de outros monumentos medievais da aldeia histórica de Castelo Rodrigo, o Centro Interpretativo da Batalha de Castelo Rodrigo, através da exposição de inúmeras peças e do recurso à interação com recursos educativos multimédia, atualiza episódios da Guerra da Restauração, nomeadamente da Batalha de Castelo Rodrigo que impulsionou decisivamente a assinatura do tratado de paz com a Espanha.
Mais libertos de um mundo que artificialmente nos constrange, reencontramo-nos aqui como pessoas. Como portugueses.
*ISCET-Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão