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Qual é a relação dos cidadãos com a campanha eleitoral para as eleições autárquicas? Há de facto uma atenção à discussão de propostas e programas ou navegamos olhando apenas à superfície e sem nos apercebermos do que esconde a profundidade?
A multiplicação de debates entre candidatos, acentuada nas autarquias de maior densidade populacional e, por isso, de maior peso político, também não parece cumprir o objetivo a que se propõe. Repare-se como na maioria desses debates se repetem os temas e argumentos em discussão e o balanço final acaba, inevitavelmente, por cair no simples saber quem conseguiu responder melhor ou "entalar" o adversário.
Mais grave ainda é a ausência de conhecimento - e aqui a culpa é também dos intervenientes diretos, sejam partidos políticos ou movimentos independentes - sobre o papel e a importância que podem ou não ter as assembleias municipais e até, em parte, as assembleias de freguesia. Quantos cidadãos têm noção dessa importância?
Olhamos insistentemente para os executivos municipais, mas esquecemos a função de controlo democrático das decisões que cabem a esses órgãos. Na verdade, permitimos que a lógica partidária, em grande medida centralizada, se sobreponha e menospreze o papel das assembleias, instrumentalizando-as. Ao permitirmos, enquanto cidadãos, que abdiquem dessa responsabilidade, abrimos caminho a poderes centralizados, sem fiscalização e os quais acabamos por acusar insistentemente de falta de transparência, quando fomos nós que deixamos "matar" os mecanismos destinados a contrabalançar os desequilíbrios.
Mesmo que nos esqueçamos disto durante grande parte dos quatro anos que medeiam os atos eleitorais autárquicos, seria bom que quando nos preparamos para escolher os representantes locais, conhecêssemos bem o destino do voto e a importância que têm os órgãos para os quais votamos.

