"Andam a dizer que não conseguimos? Vão ver que estão enganados. Conseguimos, sim, fazendo, e não apenas dizendo. (...) A trajectória de redução do défice público tem de ser acelerada. E tem de começar a ser executada, rapidamente (porque ainda mal começou). Vai doer? Vai, muito". Desta forma, incisiva, terminava Daniel Bessa o seu habitual escrito no "Expresso". Analisava a terrível semana que passou, em que a economia portuguesa esteve "nas bocas do mundo", pelas piores razões. Bessa apelava à calma, ao sentido de responsabilidade e à dignidade dos portugueses e do nosso Estado, sem ignorar que não estamos isolados e que, ao contrário do que alguns clamam, não se pode ignorar a dinâmica dos mercados financeiros e dos agentes económicos internacionais, por mais injusta e desproporcionada que a mesma nos pareça.
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O discurso do presidente da República nas cerimónias do 25 de Abril vai no mesmo sentido. Ainda bem. Esperemos que compreenda que, no seu caso, para além da análise tem uma responsabilidade e um papel político importante a jogar. Não basta apelar à mobilização dos portugueses. É preciso que facilite uma convergência de vontades políticas.
Pragmaticamente, é sobre os dois maiores partidos que recai a maior responsabilidade de chegar a um acordo que possa credibilizar internacionalmente, e acelerar internamente, a execução do PEC. Ao PS e PSD exige-se humildade e sentido de dever. E a noção de que o tempo útil começa a escassear. Cavaco Silva tem demonstrado perceber esta urgência. Esperemos que o receio das críticas num tempo eleitoral que se aproxima não tolha as necessárias diligências.
Neste processo, haverá muitas decisões impopulares, alvo fácil da demagogia populista. Vai doer e muito. Vai doer, mais a uns que a outros. Ou assim vai parecer. Há direitos que se julgavam adquiridos e que, vai-se a ver, são privilégios amovíveis. Vai doer, mais a uns que a outros. Fatalmente. São assim os mercados, colocando às políticas sociais o desafio de, também elas, serem cada vez mais focadas e eficazes. Vai doer e muito. Exigindo do Governo determinação, celeridade, ponderação e clareza. A quadratura do círculo. Não é fácil. Basicamente, é o oposto da decisão sobre as portagens nas SCUT. Cujos critérios e coerência ninguém percebe. Ninguém. Como se podia constatar nas páginas do JN de sábado. Ninguém, mesmo os que são a favor. Evidenciando que uma boa decisão pode ser estragada se não for compreensível. Um erro que não se pode cometer em tempos difíceis. Comparável à falta de senso da Oposição ao fazer aprovar, no Parlamento, uma recomendação para reabertura dos SAP, uma matéria da competência do Governo. Só determinação não chega! É preciso bom senso.
P.S.: Anuncia-se um jackpot de 60 milhões de euros no Euromilhões. Espera-se que Paulo Portas faça uma proposta para o proibir - o Estado é dono da Santa Casa - e que a mesma seja subscrita pelo PSD e por Cavaco Silva. Ou ganhar ao jogo é mais digno do que a trabalhar?