Começa domingo, em Glasgow, a COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Já se sabe que os presidentes da China, da Rússia e do Brasil não vão participar nos trabalhos e o presidente dos EUA há de chegar à Escócia com algumas promessas, mas com poucas garantias quanto à respetiva concretização. É sob o signo do pessimismo que os média internacionais vão fazendo a antevisão desta importantíssima reunião.
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Não alcançará certamente os níveis dos encontros de Kyoto (1997), de Durban (2011) ou de Paris (2015), mas a cimeira de Glasgow reúne teoricamente variáveis para ficar na História: nunca como agora a opinião pública mundial esteve tão ciente dos riscos do aquecimento global, nunca como agora se sentiram as consequências devastadoras das mudanças climáticas, nunca como agora o conhecimento científico se mostrou tão rigoroso no diagnóstico e tão assertivo na identificação dos meios de combate a este flagelo. No entanto, as lideranças políticas são periclitantes, os investimentos no ambiente revelam-se ziguezagueantes e as lógicas económicas parecem ser o que mais ordena. Por isso, será difícil avançar muito, porque, na verdade, poucos estão dispostos a pagar por isso.
Com base nas tendências atuais, as temperaturas subiriam 2.7 graus até ao final do século, o que provocaria uma queda até 14 por cento do PIB mundial. Neste cenário, 275 milhões de pessoas estariam sujeitas a sérias inundações e os cinco milhões de mortes por ano que hoje se associam ao aquecimento global iriam decerto aumentar. Não se imagina um futuro mais negro. Mesmo assim, os políticos não parecem mobilizados para aquilo que, em capa, a "Time" diz ser "a última chamada". Se bem que John Kerry, o enviado de Joe Biden para as alterações climáticos, tenha feito um esforço colossal na promoção de encontros com políticos de diferentes países e líderes de importantes grupos económicos, pouco se avançou. Por outro lado, o atual presidente norte-americano continua com a sua agenda ambiental por aprovar no Congresso, pelo que chegará à Europa com uma mão cheia de nada. E isso compromete muito o resultado final da COP26.
Nestes dias, a expectativa recairá na capacidade dos países mais ricos para atualizarem os seus planos de redução de emissões de carbono. Como bem lembrou Greta Thunberg, há que trocar o "blá-blá-blá" por políticas efetivas. É preciso, pois, coragem para tornar os governos mais intervencionistas em prol de um ambiente mais sustentável. Não há planeta B e isso deveria ser suficiente para reunir consensos políticos.
Professora associada com agregação da U. Minho