A volatilidade de fatores básicos mas que podem influenciar e alterar as políticas parece cada vez maior. Talvez seja por isso mesmo que as forças políticas dominantes estejam constantemente tentadas a reclamar consensos em vez de alternativas. São apelos que visam mais colocar o antagonista na posição de intolerância e disso tentar tirar partido do que propriamente fraternas ofertas de partilha de decisão. Mesmo quando esses apelos são divulgados em nome de um superior interesse público ou até nacional, raramente encontram eco. E mais: até hoje, ninguém apresentou um estudo ou dados sérios sobre os reais graus de proveito político deste tipo de iniciativas.
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No nosso caso, a questão dos consensos voltou a estar na ordem do dia, introduzida por Marco António Costa, na sua nova missão de coordenar o PSD, e agora respondida por Carlos Zorrinho, líder do grupo parlamentar do PS.
Basicamente, do que ambos os partidos se acusam mutuamente é de não estarem dispostos a consensos políticos.
É, portanto, na imputação da intolerância ao adversário que parece residir esta iniciativa política. Tirando obviamente partido da imagem que cada um de nós terá sobre quem mais impediu que a última tentativa de obter um consenso - e sob o mais alto patrocínio do presidente da República - tivesse êxito.
Nada mudou desde o momento em que Cavaco Silva deu por frustrada a tentativa, considerando apesar disso que tinham sido abertas portas de diálogo e abrangência para o futuro. O que, no entendimento do presidente, significa o pós--troika, ou seja, em meados do próximo ano, se tudo correr bem.
E correr bem significa cumprir com as metas "troikianas" das contas públicas, esperando que à nossa volta o Mundo faça de morto.
Ou seja, não sermos perturbados pela volatilidade de fatores "adormecidos" mas potencialmente degenerativos e por isso suscetíveis de influenciar profundamente as políticas, como, por exemplo, uma eventual intervenção armada de países da NATO na Síria.
Com esse pós-troika ainda longe e num caminho recheado de escolhos - as incógnitas sobre a execução orçamental deste ano, o orçamento do próximo e o processo de redução da despesa pública apenas iniciado -, mais que os apelos da política partidária, serão as realidades nuas e cruas a ditarem quando e até que ponto a alternância pode e deve ceder ao consenso.
O facto de esse consenso já ter sido batizado de salvação nacional e nem por isso ter sido aceite pelos dois partidos da alternância governativa significa que ambos preferem esperar para ver. E não divisaram ainda no horizonte uma ameaça suficientemente forte para abdicarem de levar por diante os seus próprios projetos e medidas.
Sejamos, então, pacientes.