Corpo do artigo
O consenso nacional não anda. Para ser franca até já enjoa! Se a gente se descuida lá está no texto de jornal, no debate televisivo ou no rodapé do futebol alguém que pede consenso e outrem que diz que não. Ao cidadão só lhe lembra o "Foge cão que te fazem Barão! Para onde, se me fazem Visconde?!" (Almeida Garrett). Ou seja, sem conserto para onde quer que nos viremos.
Mas a tão necessária consciência regional, essa parece querer dar os primeiros passos. E vale mais do que todos os consensos partidários juntos.
Vem o meu entusiasmo da notícia lida neste jornal sobre um possível entendimento entre as três universidades públicas da Região Norte.
A efetivar-se é um primeiro passo importantíssimo na formação de uma consciência regional que se sente mas não se vê. Um primeiro passo que coloca nas mãos de um projeto o que de mais importante há na definição de um território: os jovens que o frequentam e o conhecimento que nele se forma.
A oportunidade é evidente. Num ambiente competitivo onde se nota a escassez de meios de suporte ao investimento e à diferenciação, a resposta só pode vir dos ganhos de escala, da diminuição dos custos, da eliminação de redundâncias e, mais importante do que tudo, do afeiçoar da oferta à especialização económica do território.
Imagino que a constituir-se um dia, a Universidade do Norte baixará custos operacionais porque pode transversalizar todas as áreas de suporte. Eliminará cursos repetidos proporcionando ganhos de qualidade aos que se mantiverem. Dará lugar a uma oferta mais equilibrada e porventura mais completa porque só num catálogo integrado se descortinam as falhas e, sobretudo, ganhará capacidade de intervenção como efetivo fator de desenvolvimento regional se puder associar-se, pelo conhecimento e pela investigação, às especializações produtivas do seu território.
E a Região Norte é rica em especialização produtiva percorrendo o setor primário, secundário e terciário com solidez e representatividade. Isto quer dizer que a nova universidade poderá constituir-se em vários blocos de saber, nada desperdiçando do importante caminho que cada uma construiu de há 100 anos a esta parte (a UP já fez 100 anos de criação).
Repeti o nome que lhe vi dado neste jornal: Universidade do Norte. Eis um caso em que o nome ultrapassa em muito a função de designação. Chamar-lhe Universidade do Norte é dar contraste e identidade a uma região que se sabe ser constituída por 86 municípios, ter mais de um terço da população do país, exportar quase metade do seu valor total de exportações, não conseguindo protagonizar de forma consistente as reivindicações que correspondem ao seu tamanho e ao seu valor.
Alguém dizia uma certa ocasião que o "Jornal de Notícias" ainda era um dos poucos atributos reconhecidos ao nortenho. Quando no verão no Algarve se via alguém a ler o "Jornal de Notícias" não havia que enganar, era nortenho. Não do Porto, não de Braga, não de Felgueiras ou da Feira mas dessa Região do Norte de que os lisboetas tantas vezes falam como se fosse o polo.
Ora ter uma Universidade do Norte é mais do que ter uma bandeira, é ter uma bússola.
Se a regionalização não vai lá, se o associativismo municipal, mesmo reforçado, não é suficiente para a substituir, então talvez a solução seja mesmo a de nos pormos de acordo e darmos escala ao que fazemos bem.
O mecanismo aplica-se a tudo, à universidade, à economia, à sociedade. E não me digam que não é possível. Não vem é por decreto. Obriga a tomar decisões que passam sobretudo pela valorização de um só território e não de muitos quintais. Isto parece ser especialmente verdade na vida académica e, no entanto, preparam-se para dar o exemplo.
A outra coisa importante é verificar, a ser verdade o que dizia a notícia, que o presidente da CCDR-N teve um papel decisivo na ignição deste processo. Bem-haja! Conforme referi nesta coluna aquando da nomeação do professor Emídio Gomes, um dos trabalhos de Hércules que o esperavam era o de "(...) manter a lucidez e a perseverança. Ater-se às prioridades e desistir das minudências. Não perder de vista as grandes questões regionais e forjar consensos contínuos dando-lhes voz".
A conseguir e a prosseguir o que agora se anuncia, é sinal de que percebeu muito bem os desafios da função que ocupa.