Nesta sociedade de consumo celebra-se o Natal, mas esconde-se o Presépio. Como um Deus nascido pobremente em Belém pode incomodar, prefere-se a árvore de Natal e as luzes que dela saltam para iluminar ruas, praças e edifícios. Substitui-se o Menino Jesus pelo Pai Natal, uma figura imposta por uma marca de refrigerantes. S. Nicolau, esse, o santo bispo que, disfarçado, dava presentes aos meninos mais pobres na noite de Natal, foi remetido para esquecimento.
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As câmaras e as instituições públicas apelam à laicidade do Estado removendo do espaço público esses símbolos religiosos para não ofender os não crentes ou os fiéis de outras religiões. Ou seja: para afastar a religião do espaço público, abrem alas aos valores do capitalismo, que alguns dizem combater, e acabam por deixar-se dominar pelo poder da publicidade e do consumismo. Substitui-se o discurso da pobreza e da simplicidade que exala do Presépio, pelas luzes, pelas bolas e pelos presentes. O Pai Natal promove essas narrativas, as quais são bem mais alienantes do que a cristã.
É neste contexto, e talvez por causa dele, que o Papa Francisco acaba de publicar uma carta apostólica em que explica a riqueza simbólica do Presépio. Fê-lo para "apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças...".
A génese do Presépio encontra-se no Evangelho de S. Lucas, relembra o Papa. Tendo Maria completado o tempo da gravidez, "teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria" (2,7). O Presépio recebe o nome da palavra latina "praesepium", que significa manjedoura.
O Papa recorda que o primeiro Presépio foi encenado com figurantes vivos, no ano de 1223, por S. Francisco, numa gruta perto da cidade italiana de Greccio. Para além de explicar os elementos do Presépio, o Papa dá particular destaque à mensagem de pobreza que ele transmite. "Desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a "sentir", a "tocar" a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento".
Os pastores são os primeiros a receber a notícia do nascimento de Jesus. Eles viviam fora da cidade, à margem, mas foram os primeiros destinatários da Boa Notícia. "Ao contrário de tanta gente ocupada a fazer muitas outras coisas, os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida", diz o Papa.
Promover o Presépio, hoje, mesmo em espaços públicos, contribui para que se acorde para outros valores que estão silenciados, ofuscados pelo brilho das luzes e pelos apelos ao consumo. "Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado", afirma o Papa.
Padre