De um mês para o outro os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística têm uma tonalidade cor-de-rosa, segundo alguns analistas. O facto de as exportações terem crescido 13,1% em janeiro, em conjugação com a diminuição das importações na casa dos 3,8%, é uma boa notícia. Só pode ser uma boa notícia.
Corpo do artigo
Afinal, como num princípio de vasos comunicantes, o país está numa tendência de recuperação da balança comercial. Os dados reportados aos últimos três meses são, aliás, eloquentes: entre importações e exportações o país terá recuperado do plano inclinado das contas na ordem dos 2,97 mil milhões, dando--se o caso de ter aberto e reforçado novos mercados compradores no espaço exterior à União Europeia.
O ganho de novas quotas no exterior para os chamados bens transacionáveis é, de todo, um sintoma positivo.
Já a diminuição das importações impõe uma leitura prudente. Se se concluísse pela retração das compras ao exterior por obra e graça de uma maior autonomia do país, por maior produção de bens, agrícolas, por exemplo, seria caso para trespassar pelos portugueses um sentimento de otimismo. Mas não. A menor fatura a pagar fica a dever-se antes à adoção de decisões profundamente restritivas, estabelecendo a queda em flecha do consumo, seja ela decorrente de produtos manufaturados ou de matérias-primas.
Para quem for adepto do equilíbrio das contas custe o que custar - termo muito apreciado pelo atual primeiro-ministro - o balanço do último trimestre é, naturalmente, positivo. Afinal, o primado da Política deu há muito lugar ao da Economia e sem números benignos para o défice é complexa a hipótese de um respirar saudável da sociedade. E não adianta esconder: a condução do país nos últimos anos acabou por afunilar-se num estado de necessidade através do qual o receituário dos economistas alinha quase todo por um mesmo diapasão: aperto do cinto e aperto do cinto. Só.
O caminho é estreito, sabe-se. Os sacrifícios estão a provocar mossa - e a queda do consumo é paradigmática das dificuldades por que está a passar a maioria da população. O discurso dos governantes perfila uma reversão do comportamento económico e social a partir de 2013 e, como é óbvio, será fundamental a retoma efetiva. O apoio às empresas exportadoras é crucial, por agora, mas é desejável uma rápida retirada do nó que asfixia pequenas e médias empresas no circuito estritamente interno.
Bom, bom, será o dia em que seja possível anunciar uma melhoria da balança comercial pela via da associação das exportações à produção e consumo interno - e não pelos cortes nas importações realizados por manifesta falta de encomendas ou de poder de compra dos portugueses.