Depois de uma pandemia que causou disrupções nas cadeias de abastecimento com origem na Ásia e de uma guerra que tem a Europa do Leste como palco, eis-nos chegados a uma crise que afeta de forma direta e quase imediata os orçamentos familiares.
Corpo do artigo
A trilogia "pandemia-guerra-crise" funciona como um castelo de cartas, tanto assim que há debates públicos na Europa que inicialmente só pretendiam analisar o impacto da covid-19, mas que agora integram na linha de análise os estilhaços de um conflito que se desenrola demasiado perto das nossas fronteiras. E, independentemente dos horrores a que assistimos no campo de batalha e da onda de refugiados que nos comove, o orçamento familiar também aflige.
"Vamos ter de reotimizar algumas das nossas contas lá em casa", afirmou Mário Centeno, governador do Banco de Portugal. A Euribor está em terreno negativo desde 2015 e o Banco Central Europeu não descarta uma subida da taxa de juro ainda este ano, uma medida que encarecerá todos os créditos.
Perante uma escassez do petróleo russo e os temores sobre um corte no fornecimento de gás natural à Europa, os mercados mostram-se voláteis. Os combustíveis líquidos já tiveram algumas das maiores subidas registadas em apenas uma semana, mas também já registaram pelo menos uma grande descida.
Um cidadão que dependa da sua viatura para trabalhar, tenha uma habitação - que obviamente necessita de gás e eletricidade - e seja ainda titular de uma dívida bancária pode, de facto, enfrentar sérias dificuldades no curto ou médio prazo. Adicionalmente, os bens alimentares têm dado sinais de uma inflação descontrolada. O poder de compra vai encolher e só uma lógica nacional de valorização remuneratória pode impedir que Portugal fique condenado à cauda das cadeias de valor. O país precisa de atrair e reter os melhores quadros para produzir com maior valor acrescentado. O caminho não é o de congelar o salário médio e de acelerar o mínimo.
*Editor-executivo-adjunto