<p>1. As contas públicas estão de rastos. Não chega cortar na despesa, é preciso aumentar a receita. Assim, o Governo decide taxar as mais--valias mobiliárias. Dito de outra forma, o dinheiro que se ganha comprando e vendendo acções, ou seja, especulando na bolsa. De acordo com o anúncio, uma taxa de 20% sobre os lucros: o "investidor" compra por 100, vende por 200, ganha 100, entrega 20 ao Estado e fica com 80. Parece justo. O problema é que, com os nossos políticos, é preciso fazer como com os bancos e seguradoras: desconfiar e ler as letras pequeninas. Neste caso o que elas dizem é que há justiça fiscal… mas não é para todos. Assim, vão manter-se as isenções para os não residentes e para as sociedades gestoras de participações sociais. Ou seja, os que ganham dinheiro a sério com a compra e venda de acções podem ficar sossegados que o nosso Governo não os incomodará com impostos.</p>
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2. Já se disse e repete-se: as contas públicas estão de rastos, não chega cortar na despesa, é preciso aumentar a receita. Assim, o Governo decide introduzir portagens nas auto-estradas SCUT (sem custos para o utilizador). Mas como o alcatrão, quando se coloca, não é para todos, só algumas terão portagem. Concretamente três na Região Norte: Costa de Prata (Mira/Porto), Norte Litoral (Viana/Porto) e Grande Porto (Lousada/Porto). Ou seja, o nosso Governo vai taxar apenas os cidadãos de uma das regiões mais pobres da Europa. E tem a lata de argumentar que é uma questão de equidade. Se o país não pode assumir os custos das SCUT [e é bem possível que não possa, tendo em conta a forma incompetente como tem sido gerido], então que se apliquem portagens em todas as auto-estradas e a toda a gente. Não tratem os portugueses como tontos, apresentando ruas mal amanhadas como alternativa a uma auto-estrada. Nem apresentem critérios distorcidos e estatísticas manipuladas. O princípio do utilizador-pagador é aceitável quando é equilibrado. Desta forma, é apenas uma punição.
3. Rui Pedro Soares foi de novo ao Parlamento. Desta vez já não vinha com aquele ar de "golden boy" da primeira vez. Até porque entretanto lhe acrescentaram ao currículo uma acusação por corrupção. Leu uma declaração escrita e depois avisou que não abriria a boca. Causou surpresa, mas na verdade não surpreende. O mundo do ex-administrador da PT não é o da democracia e transparência. O mundo deste jovem milionário é o da oligarquia dos negócios escuros, do uso de dinheiros públicos para interesses privados, um mundo de suspeitas de corrupção, de favores e desmandos, de ostentação e novo-riquismo. Corre o risco de pagar uma multa por desobediência? Nada que o preocupe. Os milhões de euros que recebeu na PT pelos bons serviços prestados (a quem?) dão para isso e muito mais.