Ao quarto ataque fiscal sobre os portugueses, o líder do PSD diz que não. Falta saber se é um não para levar até às últimas consequências.
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1. Havia quem antecipasse que seriam muitos na manifestação da "Geração à rasca". Mas ninguém percebeu que seria uma multidão capaz de encher praças e avenidas. Não sei se foram 300 mil, sei que não me lembro de ver, nos últimos anos, tanta gente, de todas as gerações, em protesto nas ruas. Porque aos que se juntaram em Lisboa há que somar os 80 mil que se mobilizaram no Porto.
Muita gente se juntou, então, em protesto. Mas contra quê e contra quem? Esta é a parte em que, com propriedade, se pode dizer que a cada cabeça, cada sentença. Mas deu para perceber, depois de dezenas de testemunhos, cartazes e palavras de ordem, dois denominadores quase comuns: primeiro, a recusa da precariedade laboral, expresse-se ela através de contratos temporários, recibos verdes ou simplesmente salários miseráveis; depois, a rejeição da nossa classe política, esteja no poder ou fora dele.
Ou seja, o protesto tem matéria para se multiplicar: por um lado, a precariedade não vai terminar, antes agravar-se, quer por via da degradação económica, quer pela pressão que chega de todos os lados para que se torne mais barato o despedimento dos que até aqui supunham ter alguma estabilidade; por outro, não se vislumbra ainda nenhuma revolução, nem das figuras da classe política, nem das suas políticas.
Este protesto permitiu perceber, finalmente, que permanece o equívoco sobre a formação das gerações mais novas. Insistiu-se, e gritou-se, que os jovens são os "mais bem educados" entre todos os portugueses. Confundem-se habilitações académicas com qualificações profissionais. Sendo que continuarão a chegar ao mercado de trabalho, todos os anos, milhares de jovens com licenciaturas quase inúteis, que custaram fortunas e muitos sacrifícios aos seus pais. E o número vai engrossar, agora que chegam três anos para conseguir um canudo.
2. Alheio a tudo isto, o nosso primeiro-ministro rumou a Bruxelas, para mais uma sessão de subserviência ao eixo franco-alemão. Levava no bolso uma decisão que não teve a maçada de nos anunciar ele próprio: mais impostos sobre a classe média, pensionistas incluídos, durante os anos que for preciso.
Segundo nos explicaram, não é que o dinheiro esteja a fazer falta aos cofres do Estado, é mais por precaução e para demostrar aos mercados que quando se trata de aplicar medidas de austeridade, ninguém nos bate. Os mercados, infelizmente, não deram ouvidos aos nossos governantes e, no mesmo dia, o juro da dívida chegou à marca dos 8%, que é a taxa que os agiotas cobram a quem pede dinheiro emprestado só para pagar o empréstimo anterior.
A diferença relativamente às outras vezes é que, ao quarto ataque fiscal sobre os portugueses, desta vez o líder do PSD diz que não. Resta saber se é um "não" disfarçado de façam lá isso, que assim já não terei de ser eu a aplicar medidas impopulares; ou se é um "não" mesmo que isso implique uma crise política e eleições antecipadas.