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Chega aquela altura do ano em que muitos de nós estamos a fazer contas à vida para perceber onde é que, este ano, vamos passar as férias de verão. É realmente um processo que envolve enorme ponderação, especialmente se estivermos a falar em ir para fora cá dentro. (Percebi agora que o Turismo de Portugal não faz uma campanha orelhuda desde os anos 90. Triste. Pagamos a mesma taxa turística que os estrangeiros, também merecemos uma campanha que nos venda as joias escondidas do nosso país, paraísos de grande beleza e mistério e que estão prontos para serem descobertos e fazer sentir Portugal em todos os sentidos, ou seja, uma praia fluvial em Idanha-a-Nova).
Eu andei semanas a pesquisar ideias e a comparar soluções e sinto que preciso de, pelo menos, mais três semanas de férias para descansar da chatice que tudo isto é. Para que areal vou encaixar a minha toalha para, passados 15 minutos, estar a levar com uma bola na cabeça, porque me calha sempre ficar junto aos rapagões que gostam de passar a tarde na futebolada para mostrar que eles é que deviam ter sido convocados para marcar penalties pela seleção? Para que apartamento ou hotel é que me viro quando cinco noites estão tão caras, que não sei se estou a ver um t0 em Armação de Pera ou se estou a alugar o Palácio da Pena? Em que região é que me apetece pedir uma dose de sardinhas com salada de pimentos que, além do preço inflacionado, ainda vai demorar quase duas horas a chegar à mesa porque, "ó amigo, isto é feito ao momento. Ainda para mais, estive agora quase quarenta minutos a tentar explicar a uma mesa de 17 alemães o que é uma dourada escalada"?
Posso ainda não saber bem para onde vou, mas sei onde é que não me apanham: Albufeira. E não é que não me apetecesse bom peixe e bom marisco, especialmente as lagostas inglesas que adormecem na toalha, ou caminhar pela rua dos bares e ouvir cá fora uma despedida de solteira a cantar Shania Twain no karaoke ou até fazer um tereré, sentada num banco no passeio. Não me apanham em Albufeira porque de repente não se pode "simular atos sexuais em locais de diversão noturna" sem levar uma multa e, se não se pode simular atos sexuais em locais de diversão noturna, não contam comigo. Depois, também não quero pagar nada, mas sim receber, porque estas ancas a dançar funk mexem-se de uma forma que passa bem por profissional. E outra, em que consiste, de facto, "simular atos sexuais em locais de diversão noturna"? É que há bares a vender gelados. O que é que é suposto fazerem? Proibir os Calippos? Por outro lado, tenho de confessar que também é estranho ter havido a necessidade de criar um código de comportamentos aprovados pela Assembleia Municipal que, para além desta iniciativa, também quer multar quem ande em tronco nu em sítios públicos ou quem vá a cafés ou pastelarias de biquíni. O que é que se passa em Albufeira? Passou-me ao lado alguma epidemia de pessoas que pediram croissant misto prensado e fizeram queimaduras de terceiro grau na barriga, porque pediram manteiga por cima? De qualquer forma, não posso negar que, no meio de tantas conversas sobre eventuais conflitos culturais, é refrescante ver políticos a exigir mulheres mais vestidas na rua.
Por causa desta surpreendente insegurança, o presidente da Câmara… desculpem… o diácono da Câmara pediu um reforço de policiamento na região. Eu acho que não é mal pensado, embora estas novas regras possam criar um certo clima de tensão na região e colocar vizinhos a denunciar vizinhos, que vão ficar conhecidos como os albufos. A verdade é que, no país, há uma falta de efetivos, de meios, mas eu arrisco a dizer que investir mais recursos para isto é até uma ideia excelente. As nossas forças de segurança a postos para autuar qualquer malandro que ouse andar por aí a ferir outras pessoas com os seus mamilos eretos da água fria. Só não é porte de arma branca, porque em Albufeira uma pessoa fica bronzeada em meio dia de praia. As multas podem variar entre os 150 e os 4 mil euros e isso intriga-me, porque é um grande intervalo. Alguém que seja multado em 4 mil euros, o que é que tem de ser apanhado a fazer? Dançar de biquíni aquela do "Olha a explosão, quando ela bate com a bunda no chão, chão, chão, chão..." em cima da vitrina das sandes de ovo do snack-bar O Golfinho?
Posso ainda não saber bem para onde vou nas férias, mas sei onde é que não me apanham: Albufeira. E não é que não me apetecesse bom peixe e bom marisco, especialmente as lagostas inglesas que adormecem na toalha. Não me apanham em Albufeira porque de repente não se pode "simular atos sexuais em locais de diversão noturna" sem levar uma multa, e se não se pode simular atos sexuais em locais de diversão noturna, não contam comigo.

