Contra o desperdício do dinheiro público
Corpo do artigo
Numa iniciativa inédita, a revista britânica “The Spectator” lançou esta semana aquilo que designa “Projeto contra o financiamento frívolo”. Não é difícil encontrar no Departamento de Eficiência Governamental, liderado por Elon Musk, uma inspiração para esta ideia. Há já uma página dedicada ao tema e a garantia de que não faltará material.
Assegurando que os funcionários públicos britânicos são dinâmicos em “desperdiçar zilhões de libras do dinheiro dos contribuintes em projetos inúteis”, a conservadora “The Spectator” declarou, editorialmente, “guerra contra os gastos desnecessários”. E convidou os leitores a juntarem-se à Redação a fim de identificar situações problemáticas. No site da publicação, encontra-se uma base de dados com cinco entradas: compras/cartões de crédito governamentais, ajuda internacional, contratos, financiamento para a investigação e artes.
Percorrendo alguns gastos de departamentos governamentais, depressa se conclui que se desperdiçam milhões. Uma fonte para perceber isso, segundo a revista, é o cartão de compras dos gabinetes do Governo, cujo grau de pormenorização compromete muitas despesas. Os mais astutos (e são muitos!) preferem omitir explicações. Também se contabiliza o (muito) dinheiro despendido em eventos cancelados. Na ajuda externa, escrutina-se um orçamento de 13 mil milhões de libras, assegurando que se canalizam verbas para diferentes partes do Mundo “mais ricas do que muitas regiões do Reino Unido”. No que diz respeito aos contratos governamentais, uma análise simples identifica processos inflacionados e aquisições dispensáveis ou mal instruídas. Ao nível do financiamento da investigação, a revista aponta projetos sobrefinanciados com temas discutíveis quanto ao valor científico e ao impacto público. Nas artes, a situação é idêntica. E em cada uma das áreas, multiplicam-se erros humanos. Por exemplo, nos últimos cinco anos, o Departamento de Trabalho e Pensões pagou mais de meio bilião de libras em pensões a pessoas falecidas.
Perante um número considerável de factos, torna-se vital criar meios para combater desperdícios que, para além de minarem a confiança dos contribuintes, desviam fundos que poderiam ser aplicados em áreas essenciais da vida coletiva. Ao convidar os cidadãos a desempenharem um papel ativo nesse escrutínio, reforçando a ideia de que o dinheiro público deve ser tratado com seriedade, a revista “The Spectator” assume uma responsabilidade social intrínseca ao jornalismo: vigiar os poderes tendo como fim o bem público. Que esse seja o mote da iniciativa e não qualquer motivação mais populista contra um governo de Esquerda em queda de popularidade.