Contrariar de outro modo a alimentação não saudável
Um estudo da Direção-Geral da Saúde revelou ontem que as crianças com menos de 16 anos continuam expostas a publicidade de bebidas e de alimentos não saudáveis. A estratégia usada para contornar a legislação é simples: publicita-se a marca em vez dos produtos. Isto significa que as autoridades de saúde têm de procurar outras formas de atuação.
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A exposição, muitas vezes intensiva, a alimentos não saudáveis é hoje inevitável. Por várias razões. Com um dispositivo móvel na mão, uma criança consome vídeos produzidos em diferentes geografias (logo com enquadramentos legais diferenciados), segue "youtubers" que falam de variadíssimos tópicos com um ilimitado grau de liberdade e trocam em permanência mensagens e fotos sobre aquilo que fazem com os seus colegas. Frequentemente essas rotinas passam por comer comida rápida à hora do almoço. Basta circular pelas áreas circundantes das escolas para se perceber que hamburgers e pizzas são os menus mais comuns e, claro, mais atrativos do que a oferta das cantinas escolares.
Em casa, os hábitos alimentares das famílias, sobretudo em contextos urbanos, situam-se muitas vezes longe daquilo que seria desejável. Ora porque é preciso economizar e aí as escolhas reduzem-se substancialmente, ora porque o horário tardio a que se chega a casa ao final do dia empurra-nos para opções rápidas que se enchem de fritos e gorduras. E se ao fim de semana uma família de classe média se permite ir a um restaurante, todos sabemos os sítios onde a fatura não escala de forma assustadora... Isso significa que os hábitos dos mais novos devem ser sempre enquadrados nas opções feitas em família.
Ora, estes contextos exigem outras políticas públicas e outras estratégias de prevenção. Claro que as limitações impostas à publicidade de produtos alimentares não saudáveis dirigidas a quem tem menos de 16 anos devem permanecer e até ser reforçadas. Mas precisamos de ir mais além. Nas escolas, os manuais deveriam ter este tópico mais desenvolvido e aí os ministérios da Educação e da Saúde poderiam ajudar a promover debates sobre a necessidade de todos aderirmos a uma alimentação saudável, transformando essa necessidade num tema "cool". Por seu lado, as autoridades de saúde deveriam tornar tudo isto mais presente nos ambientes por onde circulam os mais novos: nos vídeos que consomem, nas conversas dos youtubers da moda, nas letras de músicas, nas tramas de videojogos. Também seria importante procurar um efeito de agendamento regular no espaço público mediático. É de hábitos que aqui tratamos e esses vão muito para além daquilo que a publicidade formal condiciona.
*Prof. associada com agregação da UMinho