Está a decorrer a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27).
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Decorre sem a presença de ativistas ambientais nas ruas, devido a uma lei antiprotesto no Egito que não permite a mobilização, nem o escrutínio da sociedade civil. Muitas têm sido as parangonas no início desta COP, referindo que a nossa Casa Comum se encontra à beira de um "precipício climático": inundações, ondas de calor agressivas, secas extremas, perda expressiva de biodiversidade, degelo, crise na produção de alimentos, crise energética ou refugiados climáticos. Desta vez, o primeiro-ministro de Portugal decidiu marcar presença, tendo deixado claro que não podemos desviar-nos das urgências das respostas aos desafios das alterações climáticas. Isto, quando uma análise do Carbon Brief publicada no primeiro dia da COP27 veio colocar em cima da mesa o tema das compensação de "perdas e danos" às nações mais afetadas como um ponto-chave da cimeira do clima. Nessa análise, Portugal aparece em dívida para com o clima (100 milhões aquém do estipulado). Na mesma altura em que o secretário-geral das Nações Unidas alertou para a necessidade "de um aumento global do investimento na adaptação às alterações climáticas para salvar milhões de vidas da carnificina climática". Enquanto isso, as políticas públicas continuam sem aplicar a estratégia europeia de "uma só saúde", em que a saúde do planeta significa a nossa saúde, em que as políticas de prevenção e de saúde têm de fazer parte de qualquer política governativa (desde a educação à agricultura). Neste pacote de políticas públicas, a evidência científica mostra que é preciso incentivar a produção da proteína vegetal em vez da produção de animais para consumo humano, priorizar o conceito de km zero na produção e distribuição de alimentos, apostar no planeamento de "cidades 15 minutos". Irão as políticas públicas continuar em dissonância cognitiva após a 27.ª COP? Bem, é a falta de coerência política que leva cada vez mais pessoas a desacreditarem no coletivo e a só terem esperança na mudança individual.
Dirigente do PAN