Mal ouvia foguetes ficava atento. Ia saber onde e porque estouravam, não fosse um bom jogo de futebol enganá-lo. Não era porque gostasse de foguetes.
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Era por causa de romarias, festas com povo a andar pelas ruas, o cheiro de fritos a entrar pelas narinas, vozes atropelando-se em altifalantes em anúncios de diversão. O meu pai gostava de romarias. Fazia quilómetros para ver duas bandas a esgrimir mestrias musicais, ver andores a desfilar, ouvir músicos populares em palcos improvisados. Quando deixei de acompanhá-lo nunca se esquecia de trazer farturas. Sabia que devorava aquelas serpentes doces e cheias de óleo. Ainda devoro quando sei onde estouram foguetes. Não faço é quilómetros para ir buscá-las. Há 40 anos que é assim, desde que o meu pai morreu. Teria feito, há dias, 99 anos. Hoje, ouvi foguetes. Decidi escrever com o coração. Perdoem o abuso.
Jornalista