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A cerca de três semanas das autárquicas, um conjunto cada vez mais determinado de candidatos presidenciais desfilam presença e algumas ideias num marchar a passo que pretendem não ser intrusivo ou de desgaste. Sempre com dois medos que assistem ou espreitam pelo ombro. A tentação de não gastar pólvora com tiros sem alvo é evidente, tendo em conta que é muito cedo para esbanjar trunfos para o esquecimento que uma campanha autárquica necessariamente convocará. Por outro lado, a inegável crise de afirmação numa corrida de fundo e profundamente particular, onde o conhecimento público se constrói com presença permanente, tantas vezes televisiva, como se as presidenciais fossem um concurso de proximidade familiar em caça ao voto. Eleger pessoas começa a ser, cada vez mais, sinónimo de votar em personalidades ou figuras públicas. Os corredores de fundo sabem que não podem abandonar a pista por mais que a meta esteja distante. Perante eleições presidenciais marcadas para 18 de janeiro, a velocidade será furiosa. Com o Orçamento já aprovado e após a digestão dos resultados autárquicos, a eleição presidencial terá dois meses de disputa com direito a presentes de Natal e desejos de Ano Novo. Não há tempo a perder para a miríade de candidatos que se perfila, sobretudo à Direita, o que diz bem da incapacidade da Esquerda em se bater contra a dispersão numa frente comum que trouxesse uma linguagem nova de esperança, paixão e crença. Os candidatos presidenciais são corredores de fundo ou, por vezes, pela porta dos fundos. A polémica à volta do almoço de Gouveia e Melo com André Ventura é um espelho do que deixa pouca margem à imaginação. Se o almirante foi à procura de consensos, não os encontrou. Mas ambos não saíram como entraram. A hipótese colocada por Gouveia e Melo de que acordos seriam possíveis é reveladora de alguma ingenuidade política. Ganhou Ventura em mais uma normalização para o seu projecto pessoal logo depois anunciado. Pode não haver almoços grátis, mas há alguns que hipotecam eleições. Desde a ditadura, talvez nunca tenha havido tantas razões para a Esquerda se mobilizar para uma luta nova, aproveitando a sede ao pote que muitos candidatos no espectro político à Direita têm manifestado. Notoriamente incapaz de se mobilizar em antecipação, é fundamental que a Esquerda ainda alinhe pensamento no que tem de fazer para ter um candidato que consiga disputar uma segunda volta. Desde já e sem rodeios, há almoços para combinar com urgência