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António Costa está desde ontem na China. Há cinco séculos, os portugueses foram os primeiros europeus a entrar na Cidade Proibida e ver a cor dos olhos pequeninos do imperador. Não por acaso, Costa foi agora recebido pelo próprio presidente Xi Jinping, um gesto de face que este só dá a raros primeiros-ministros.
Diplomacia à parte, a China é hoje um dos nossos principais investidores, colocando-nos como terceiro destino europeu das suas aplicações. Só em Portugal, e desde 2011, os seus negócios já ultrapassam os 12 mil milhões de euros, o que lhes permite a participação ou controlo de empresas que vão desde a energia, às águas, à saúde, aos seguros, à imobiliária, à indústria e também à banca. Na bagagem de regresso, Costa quer trazer sinais de que a gigante tecnológica chinesa Huawei possa instalar em Portugal a sua principal base europeia, no que representaria, entre outras venturas indígenas, um importante acréscimo de emprego qualificado.
Mas no caminho de Costa está ainda Macau, o mais antigo lugar de encontro entre portugueses e chineses. E Macau é, em boa medida, a chave da confiança e da boa relação centenária entre as duas nações. Porque está ali o lastro, com história, cultura e sangue dentro. Independentemente da sua origem, mais de 100 mil residentes partilham connosco a nacionalidade. Têm moeda própria, a pataca, cuja emissão é partilhada entre o Banco da China e o nosso único e lucrativo BNU, detido a 100% pela CGD. O português, ainda que minoritário, é uma das duas línguas oficiais. O edifício legal que ali deixámos continua de pé, e há de vigorar pelo menos até 2049, nos termos da Declaração Conjunta entre os dois países, que os chineses têm cumprido.
Eles olham para o mapa-mundo e valorizam a língua portuguesa como um ativo com interesse estratégico. Percebem que as nossas boas relações com o Brasil e com Angola são um instrumento valioso, e que Portugal é mais uma porta de entrada para a maior zona de comércio livre do Mundo. É a própria China a reconhecê-lo, conferindo a Macau um papel central como plataforma de intercâmbio e de cooperação com os países de língua portuguesa, através do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial com os países lusófonos, cujo secretariado ali sediado, com representação portuguesa e de toda a CPLP, é integralmente financiado pela China. Em Macau, no jogo entre dois povos só não ganhámos ou empatámos quando perdemos por falta de comparência. Já os chineses têm olho rasgadinho, mas veem largo! Não é para Portugal que olham, é para o mundo de língua portuguesa.
*DIRETOR