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Regressaram os debates quinzenais com o primeiro-ministro. Foi do então deputado António José Seguro que partiu a ideia da conversa assídua do Governo com o outro órgão de soberania do qual depende imediatamente. Algures acabou. Com esta gente. O que não espanta. Costa sempre execrou e desprezou Seguro. Logo, qualquer “ideia” que este tivesse formulado, ou promovido, estaria condenada ao fracasso. O PSD quis retomar tais debates e, porventura, o PS, agora maioritário e absoluto, condescendeu. No primeiro desta nova série, aconteceu o que costuma acontecer desde 2019. Costa arranjou nessa altura um “aliado”, a contraponto, chamado André Ventura. Com Ventura, e respectiva trupe, há sempre bardina garantida. O Chega, para continuar a crescer até atingir o princípio de Peter, só afirmando-se como partido de protesto, de “irresponsabilidade ilimitada”, pode prosseguir. Veja-se o caso da Madeira. Ventura não quer ser legitimado institucionalmente pelos votos que lhe entregam. Prefere usá-los na estúrdia. É vocal, sabe-o, eficaz, literal, demagógico e superficial. Quem melhor, do outro lado, do que Costa para puxar por ele, e vice-versa? Se um diz mata, o outro responde esfola, os dois satisfeitíssimos pelo ambiente de taberna a que, invariavelmente, conduzem os debates em São Bento. A comunicação social, depois, encarrega-se de amplificar o espectáculo, atribuindo o prémio de melhor estarola, ex aequo, a Costa e a Ventura. Nunca, evidentemente, de estadista ao primeiro. O ponto é que Costa e a sua maioria disciplinada (Pedro Nuno Santos, o comentador “rebelde”, anda ali mais direitinho que o pior dos invertebrados) duram. O PSD, por mais bem preparado que esteja para estas coisas, é sempre um protagonista secundarizado. Se for preciso, o PS “parasita” as suas propostas e fá-las suas com outro embrulho. Sucede que o PSD é o maior partido da oposição. Só que não é vocal como os chefes dos outros dois. Ou, quando é, não passa ou passa mal. Com uma direcção político-partidária fechada e ensimesmada, Luís Montenegro não chegará na melhor forma às eleições europeias que o partido precisa vencer, sozinho ou coligado. O PSD tem de repor rapidamente a autoridade política que deteve sobre todo o espaço da não esquerda até 2018. O país não pode estar refém do sr. Contente Costa e do sr. Feliz Ventura.
Um livro: de João Maurício Brás, “Textos sem açaime - crítica do falso mundo liberal, progressista e woke”. Opera Omnia, 2023. Sobre esta “fábrica de produção de cretinos”, de absurdo, de grotesco, de frivolidade, de “poder material e da ignorância programada”, de “macacos sofisticados”, em suma, em que o mundo “liberal-progressista” se transformou.
O autor escreve segundo a antiga ortografia