António Costa entrou ontem em modo de campanha eleitoral. E exige, nada mais, nada menos do que uma maioria absoluta. O facto, em si, não traz novidade. No PS, como no PSD, o objetivo em campanha é sempre esse, ainda que a pretensão possa ser irrealista.
Corpo do artigo
Boa parte do argumentário de Costa em favor do poder absoluto é igualmente vulgar. É a única forma, sublinha, de garantir "um Governo estável, com uma política coerente e uma ação política consistente". Passos Coelho não diria diferente nem melhor. O que talvez surpreenda é que o líder do PS lhe acrescente a tese do "nós ou o caos". Explicando melhor, o líder socialista avançou que o país não pode acrescentar à "incerteza da crise económica" a "incerteza do destino político". Cavaco não diria diferente nem melhor. Aliás, não fez outra coisa sempre que o PS lhe pediu antecipação de eleições, ou sempre que o Governo ameaçou implodir-se. Todos diferentes, todos (com argumentos) iguais.
Que o apelo a uma maioria absoluta tem provas dadas na mobilização das tropas, é um dado adquirido. Sobretudo em congressos, garante uma boa salva de palmas e até aclamação. Mas as certezas esbatem-se quando está em causa o conjunto dos eleitores, que não se entusiasmam com problemas que não sentem como seus. Assim, e como homem avisado que é, António Costa também deixou claro qual será o seu plano B: uma coligação com o que resultará do Livre e do Manifesto, essa Esquerda que, ao contrário do BE e do PCP, será capaz de "romper o bloqueio da incomunicabilidade". Foi aliás uma das poucas inovações deste Congresso: fez-se campanha pelo PS e por um segundo partido (o facto de ele ainda não existir é uma minudência). Sendo que com isso também fica um sinal de alerta a futuros eleitores da coisa: a sua função é servir de muleta a um Governo PS. Como projeto político não é mobilizador. É até de considerar que os dirigentes do Livre/Manifesto sufoquem com este abraço de urso fora de tempo.
Ainda assim, restará o plano C. António Costa fechou ontem a porta a um Bloco Central com o PSD. Mas não a trancou. "Seja o Pedro, seja o Rui, não é uma questão de nomes, é uma questão de políticas", rematou o líder do PS, depois de um longo introito sobre o perigo que constitui, para a democracia, o "empastelamento" provocado por uma excessiva confusão entre PS e PSD. À parte a alegoria sobre o nome de Rui Rio, talvez seja de focar a atenção na ênfase sobre as "políticas". Porque outro PSD, com outro nome, estará naturalmente disponível para outras políticas. Em campanha, como já está, o líder do PS nunca o admitirá. Mas quando a realidade da mercearia eleitoral se impuser, e falhando as contas do plano A e do plano B, será sempre possível reabrir a porta ao Bloco Central.