1. Mário Centeno apresentou esta semana o seu quinto Orçamento do Estado. E, muito provavelmente, esta será a última vez que ele repetirá o ritual da entrega da mágica pene a Ferro Rodrigues.
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Tudo indica que mal termine o seu atual mandato como presidente do Eurogrupo, no próximo verão, deverá abandonar o gabinete de ministro das Finanças.
Vê-se que Centeno não está interessado em manter-se no Governo até ao fim da legislatura. O seu principal desejo é ocupar um cargo internacional de relevo, ou vir a ser governador do Banco de Portugal. E até os calendários lhe correm de feição. O fim do seu mandato no Eurogrupo coincide com o fim do mandato de Carlos Costa à frente do banco central.
2. Ora, no que ao BdP diz respeito, Centeno tem a faca e o queijo na mão. Granjeou prestígio em Portugal e na Europa; ascendeu a presidente do Eurogrupo; nunca foi à bola com Carlos Costa; e como ministro das Finanças tem uma palavra a dizer sobre o futuro governador. Logo, o lugar só não será seu se algo de melhor lhe surgir pela frente.
Resta saber, para completar a equação, o que pensa António Costa sobre tudo isto. Mas é claríssimo que o primeiro-ministro já lhe prepara a festa do adeus. E a única dúvida que existe é saber se Costa e Centeno têm um guião concertado entre os dois, ou se cada um procura rodar os espelhos de acordo com as conveniências pessoais de cada momento.
3. Na anterior legislatura Costa conseguiu tudo o que precisava de Centeno. Fez de conta que lhe dava todo o poder porque queria equilibrar o défice. Fechou os olhos às cativações porque via nelas o trinco para impedir derrapagens nas contas. Congelou os investimentos e desprezou os serviços públicos porque receou não ter dinheiro para os custear.
Para Costa, o sovina era Centeno. Como se não fosse ele o chefe dos ministros. Mas deu-lhe jeito que ele fosse o mau da fita. Da mesma forma que agora lhe dá jeito deixar que vários ministros surjam em disputas com o titular das finanças. E no fim, a cereja no bolo: Costa desautoriza Centeno em pleno Conselho Europeu, porque os equívocos servem aos dois....
*Professor universitário e investigador do CEPESE (UP)