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Madrid, 19 de março de 2024. Ligo um aparelho de televisão e constato que o noticiário é dominado por dois assuntos: preços demasiado elevados das habitações e casos chocantes de violência doméstica. Do outro lado da fronteira, em Portugal, esses problemas atingem igualmente proporções preocupantes. Hoje, em Lisboa, no “Foro La Toja”, políticos e académicos ibéricos vão debater o que nos aproxima e o que nos afasta, meio século após a transição democrática levada a cabo quase em simultâneo nos dois países.
Imagine a seguinte situação hipotética. António Costa e Carles Puigdemont, presidente da Catalunha quando a região declarou a independência em 2017, cruzam-se à porta de um edifício chamado “sistema político”. O antigo primeiro-ministro bem poderia dizer ao líder do Junts que estava de saída por problemas de menor importância com a Justiça. Puigdemont, pelo contrário, diria que estava a entrar no “sistema político” espanhol, apesar de ter graves problemas com a Justiça do seu país. A situação é, de facto, paradoxal.
A instabilidade política aproxima, no presente, Madrid de Lisboa. Os dois principais partidos quase empataram nas últimas legislativas. O PSD, aliado ao CDS e ao PPM, ficou ligeiramente à frente do PS e assumiu o Governo com todos os riscos inerentes. O Chega cresceu e consolidou a terceira posição. Em julho de 2023, em Espanha, os conservadores do PP venceram as eleições ao conseguir 136 deputados, seguidos pelo PSOE com 122. O Vox, “parente” do Chega, ficou em terceiro lugar. Os socialistas espanhóis lideram agora o Governo depois de se terem unido ao Junts, liderado pelo exilado Puigdemont, e ao Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). A amnistia concedida aos independentistas foi o preço que Pedro Sánchez pagou por essa solução. Hoje, o “Foro La Toja” vai debater tanto os paradoxos como os desafios ibéricos.