Não lhe chamo erros. Chamo-lhe tiques. O que é pior, porque os erros podem ser corrigidos. Os tiques raramente têm cura. São movimentos automáticos e repetitivos numa pulsão incontrolável e irracional.
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No nosso país, os tiques do centralismo são visíveis até neste especialíssimo momento que atravessamos.
A começar pelos números, onde as autarquias e a Direção-Geral da Saúde têm protagonizado um combate diário que degrada os níveis de confiança e a credibilidade do sistema de suporte à pandemia.
Na proporção entre a incidência de casos e a repartição dos recursos.
Em cerca de 17 mil infetados, mais de 10 mil estão no Norte do país. Tirando a sistemática ação proativa e reivindicativa de alguns presidentes de Câmara, não se conseguem forçar níveis de transparência aceitáveis na informação sobre a repartição dos recursos e muito menos sobre a sua efetiva afetação.
A chegada do avião com material e equipamento fretado pelo Governo, teoricamente para ser distribuído por todo o país, foi expressivamente ilustrada com a presença do sr. primeiro-ministro e do sr. presidente da Câmara de Lisboa...
Mas nada se compara à extraordinária ideia de nomear secretários de Estado para a verificação do cumprimento do estado de emergência em cada região, passando por cima das instituições que naturalmente estão preparadas para articular com eficácia todo o tecido institucional e empresarial regional: as comissões de coordenação regional...
Conforme se pode ler nas notícias "(......) a Região Norte fica a cargo de Eduardo Pinheiro (secretário de Estado da Mobilidade), a Região Centro é para João Paulo Rebelo (secretário de Estado da Juventude e Desporto), a Região de Lisboa e Vale do Tejo fica sob coordenação de Duarte Cordeiro (secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares), o Alentejo está sob alçada de Jorge Seguro Sanches (secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional) e o Algarve passa a responder a José Apolinário (secretário de Estado das Pescas)".
Está tudo dito, ou não?
Analista financeira