Tal como na crise da troika, fomos apanhados de surpresa e reagimos tarde. Desta feita, temos um bocadinho mais de desculpa, porque o inimigo é mesmo invisível. Mas, por outro lado, havia Itália e Espanha.
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A primeira perplexidade resulta da constatação de que não gostamos ou não conseguimos proagir. Só sabemos reagir e lentamente. O Estado como os cidadãos. O que nos deixa em vulnerabilidade máxima, porque somos pobres, velhos e relativamente mal organizados.
Somos, claro, pontualmente solidários e prestimosos. Mas não conseguimos reclamar uma disciplina rigorosa, porque não nos sentimos dispostos a cumpri-la.
Os agentes políticos conhecem esta natureza e pressentem a má vontade associada a sacrifícios sem causa à vista. Por isso, não se especializam em tomar medidas preventivas, sobretudo as muito musculadas.
Há os que têm coragem, como Pedro Passos Coelho, para as impor quando é inevitável. Mas ainda não há quem as assuma quando são apenas profiláticas. No orçamento, como no fecho de fronteiras. Na subida desmesurada da dívida e do défice quanto na coragem para decidir hoje medidas mais duras porque a cada caso declarado de infeção corresponde um número exponencial de infetados.
Desta feita, o tempo de paragem imposto poderia servir para refletir e autoimpor a cada um de nós o compromisso de uma mudança: parar de esconder debaixo do tapete as nossas fragilidades e atacá-las de frente. Do Código do Trabalho à demografia, da luta contra a corrupção à educação.
O primeiro resultado seria, quando o céu limpar, deixar à frente os que realmente precisam de ajuda no que toca a medidas de mitigação económica e financeira, e recomeçar a vida devagar.
O segundo, verificar que o Governo e a oposição não se inebriam com um resultado (desejável) relativamente favorável de tudo isto e não se apressam a lançar medidas populistas, eleitoralistas e... ineficazes.
Seremos capazes ou quando pudermos sair vamos a correr ressacados e ofegantes para o primeiro centro comercial?
Analista financeira