A maioria dos portugueses, ainda que em milésimos de segundo, já pensou em abrir um restaurante ou um bar e se muitos deles arriscaram, foram também muitos os que conheceram uma taxa de mortalidade elevada. Vem isto a propósito do boom turístico que o país está a atravessar e da forma como o panorama da cultura gastronómica está a mudar (em) Portugal.
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Há uns bons anos, entrar na área da restauração era fácil: escolher um lugar, fazer umas obras (na maioria de gosto duvidoso), contratar fornecedores, servir uns pratos económicos e esperar pela clientela. Sem grandes contas, sem grandes investimentos. Os portugueses gostam de comer. Mais do que isso. Adoramos falar de comida e de comer fora, mesmo que seja no jardim com os amigos e a família.
Após quatro anos de dura crise, com a falência de restaurantes em catadupa, a restauração está novamente na mó de cima. E, como o desenvolvimento económico está orientado para o turismo, a iniciativa empresarial é agora mais requintada, assente na classe média e alta e nos turistas que procuram o "very typical" mais chique. Portugal estranhou e depois entranhou o "star system" do Guia Michelin. Nunca houve tantos restaurantes no país a receber as tão almejadas pontuações. Só no ano passado foram 26 as estrelas conquistadas, ainda muito longe dos 203 restaurantes e 249 estrelas dos vizinhos espanhóis. Mesmo assim, um ano bombástico para a progressão realizada e para a dimensão do país.
Esta chuva de estrelas, acompanhada pelos restaurantes que as querem alcançar, tem permitido atrair mais investidores para a gastronomia. Refeições a começar nos 70 euros atraem capital disponível, até porque a explosão turística permitiu também que houvesse uma maior oferta, desde o cozido à portuguesa de baixo preço até aos templos gastronómicos de alta qualidade.A juntar a tudo isto, a multiplicidade de programas gastronómicos de televisão está a democratizar a cozinha. Mais. Está a alterar a visão que as pessoas têm da gastronomia regional e a suportar uma febre coletiva de consumo alimentar.
A pergunta que fica é se estamos a criar uma "bolha gastronómica" que pode rebentar a qualquer momento. Ainda não saímos do efeito da crise recente e parece que nos estamos a meter noutra. Basta olhar para a estrutura financeira de muitos restaurantes para perceber que é necessária atenção redobrada: dívidas frequentes, salários precários e má gestão.
* EDITOR-EXECUTIVO
