1. Porque é que o Governo continua em alta nas sondagens? Por causa do ministro das Finanças. Goste-se ou não de Vítor Gaspar, ele sabe o que quer. E atrás dele vai o Governo com o beneplácito de Passos Coelho. Todos em filinha, de mansinho, entregando as prendinhas ao menino jesus da Troika. Nos tempos que correm ter-se convicção e mostrar-se um caminho minimamente sensato aos restantes concidadãos não é coisa pouca. E como há muita gente a falar mas poucos a mostrar acções concretas, Gaspar é o rei deste Natal.
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A explicação é simples: a maioria dos portugueses gosta de contas de mercearia. Viver com o que se tem. Pagar a horas. Não passar vergonhas. Foi assim com Salazar, em parte foi assim que compraram o "estilo Cavaco", e no Porto é assim com Rui Rio. Algo do tipo "donas de casa bem governadas". Não é que não gostem de flores, casa nova, e jantares à luz da vela. Mas a maioria dos portugueses sabe viver com pouco. E percebe que Gaspar não possa dar mais do que recebe.
2.Paz à sua alma. A CP está por um fio. Os maquinistas parecem querer extingui-la. Anunciaram mais uma greve numa altura em que a Consoada enche os Alfas e Intercidades. A única salvação da CP passa, uma vez mais, por ter os portugueses a contribuir com dinheiro para este jogo permanente de chantagem. Só assim haverá salários no final do mês.
O pré-aviso de greve significa que já hoje, dia 22, à tarde, deixa de haver alguns Alfas e Intercidades. E o caos estende-se até 2 de Janeiro porque as greves na CP nunca se ficam pelas datas marcadas - alastram sempre para os dias seguintes. Desta forma, os maquinistas deixam sem solução os seus melhores clientes, ou seja, aqueles que ano após ano preferem ou só têm o comboio...
A culpa dos 195 milhões de prejuízos da CP em 2010 não é apenas dos maquinistas. Nem, obviamente, o facto de a dívida acumulada rondar os 3,5 mil milhões. Mas há uma questão por resolver: quando os maquinistas param a CP, estão a lutar contra quem? Contra os utentes e contribuintes. Não pretendo escamotear os seus direitos. Mas a sua agressividade e benefícios não têm paralelo na CP. O Sindicato dos Maquinistas, aliás, é muito de esquerda mas trata apenas de obter condições leoninas para os seus filiados, deixando para trás os ferroviários, o pessoal das bilheteiras, revisores, etc... E como sozinhos param a empresa, valem-se disso. Sequestram a empresa e o país.
A culpa, obviamente, é de quem durante anos a fio negociou com este sindicato até ao absurdo. O que fazem os ministros dos Transportes? Como os custos das greves são tão altos e dão tanta agitação social, vão pagando sempre. O passivo da CP conjugado com o da Refer é de 10 mil milhões de euros (quase 15% do empréstimo da Troika). É uma dívida superior à dos 308 municípios juntos!
3.Como é que os pilotos da TAP conseguiram obter para si uma promessa de ficarem com 10 a 20% do capital da empresa numa eventual privatização? Com o mesmo tipo de chantagem dos maquinistas: no Verão de 1999, o ministro de serviço do Governo de Guterres, João Cravinho, acabou com a ameaça de greve e prometeu aos pilotos este bónus em ponto gigantesco. E eles, fervorosos "sindicalistas", foram logo dividir com o resto do pessoal da empresa a benesse obtida neste processo de chantagem permanente... Certo? Errado. Ficaram com ela para a usarem no momento certo.
Desde há muitos anos que os pilotos ameaçam e fazem ou desconvocam greves ao seu belo prazer, esquecendo todos os bilhetes por vender e os aviões vazios que tripulam quando cancelam as greves na véspera... Sequestram a empresa e destroem o emprego dos seus colegas. Poderia ser diferente? Tenho a certeza que a maioria dos trabalhadores da TAP se sente refém dos pilotos. Algo tem de mudar. Tem de se inventar uma fórmula que crie regulação dentro das empresas entre os próprios trabalhadores.
4.Porque é isto que arrepia. Como não se pode limitar o direito à greve dos pilotos ou maquinistas, e também não há dinheiro para continuar a pagar estes desvarios, o que se faz? Privatiza-se. Depois os liberais é que são os maus da fita...