Ícone milionário de Portugal, Cristiano Ronaldo transforma a sua genialidade no futebol em caixa registadora insaciável. Como se já não estivesse rico, acaba de renovar contrato com o Real Madrid melhorando a folha salarial para os 17 milhões de euros/ano. Um balúrdio, sim, ao qual ainda se juntam os milhões arrecadados em publicidade.
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O dinheiro pago a estrelas do espetáculo, sejam elas do futebol, do automobilismo, da música ou do cinema é um debate eterno. Aprofundado sempre e quando a valores astronómicos se sucedem outros ainda mais estratosféricos.
Muitos portugueses interrogam-se: os valores recebidos por Cristiano Ronaldo - como alguns outros, poucos - não são aviltantes numa sociedade marcada por um cavar de fosso cada vez maior entre pobres e ricos? O que produz em benefício da comunidade Cristiano Ronaldo para justificar um camião de dinheiro ao final de cada mês?
Quem não tem dinheiro para comprar uma côdea ou vive sem horizontes de futuro tenderá a um rotundo não, descartando qualquer espécie de racionalismo. Nem a felicidade e o gozo estético da genialidade convence - ou, sequer, o pagamento de impostos. O que transfere a discussão para outro plano: o da irresponsabilidade de quem gere um clube de futebol e está disposto a pagar milhões para ter uma estrela à escala planetária. E no entanto......
Cristiano Ronaldo, aqui trazido apenas por ser o mais recente caso, constitui-se numa marca de enorme rentabilidade. Tem um efeito reprodutor ao nível do marketing e da publicidade e arregimenta multidões, nos estádios ou nos ecrãs de televisão de todo o Mundo, replicando audiências e um efeito cascata único. Ficando ainda por contabilizar, por ser impossível fazê-lo, o tal lado artístico a espalhar prazer em milhões de adeptos do futebol.
É fundamental, pois, relativizar os ganhos financeiros de Cristiano Ronaldo. E, embora possa parecer contraditório, compete ao próprio perceber a necessidade de não contribuir para o tal aviltamento.
Cristiano Ronaldo é um nome incontornável do Portugal de hoje no Mundo. É um modelo-atração para jovens na ingénua ambição de lhe seguirem as pisadas - de menino pobre a senhor rico, num percurso idêntico ao de Messi, a sua grande sombra dos estádios e no reconhecimento mundial.
Uma responsabilidade assim tem, evidentemente, um custo.
Idolatrado pelo perfume futebolístico que exala nos estádios, apreciado por gestos de generosidade, a Cristiano Ronaldo cobra-se uma fatura de compostura social. Perdoa-se-lhe que trate um presidente da República por você mas o mesmo não acontece sempre e quando é ostensivo na amostragem de sinais exteriores de riqueza.
Na impossibilidade de muitos cidadãos se candidatarem a fazer as folgas do astro, recebendo o valor correspondente, aceite-se que do dinheiro tire Cristiano Ronaldo bom proveito. Com peso e medida pública.