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Depois de ter sido proibida pelo anterior governo na Alemanha, uma revista de extrema-direita ganhou o braço-de-ferro judicial e viu a interdição anulada pelo Tribunal Administrativo Federal. A publicação em causa incita ao ódio contra judeus e migrantes e o tribunal reconhece que o seu conteúdo é anticonstitucional. Ainda assim, concluem os juízes que a Constituição alemã consagra a liberdade de imprensa e de expressão como valor que deve ser aplicado até “para os inimigos da liberdade”.
A decisão é mais um episódio no dilema alemão (aplicável a tantos outros estados) entre a liberdade e a contenção da extrema-direita. Ou entre o combate dos extremismos dentro do jogo democrático e a sua barragem através de instrumentos legais e judiciais. Qual o ponto de equilíbrio entre valores que permite reforçar a democracia e evitar que esta seja corroída por dentro? As respostas não são de todo óbvias e importa ir ouvindo argumentos e experiências internacionais.
Em França, o movimento associativo tem vindo a mobilizar-se e a multiplicar apelos para que o combate se faça a partir da sociedade civil, com uma cultura democrática viva e uma vigilância permanente dos sinais de intolerância e de ódio. Parece cada vez mais evidente que o caminho da proibição e da justiça não é o mais eficaz (ou pelo menos não basta) para salvar a democracia. As ameaças estão no quotidiano e é no quotidiano que têm de ser enfrentadas e trabalhadas.
Para quem tem a visão de que a política é uma esfera de decisão separada da vida, este é o tempo de insistir na ação política ao alcance de cada pessoa. Todas as nossas escolhas têm consequências. A vida é a atualização permanente de valores. Pode parecer pouco ou insuficiente, mas são os cravos que semeamos a cada instante que, somados coletivamente, produzem liberdade.